domingo, 28 de outubro de 2012

Os fragmentos de Floresta Estacional Semidecidual e a biodiversidade de Brotas - SP

Ainda são poucos os estudos detalhados sobre a fauna e flora das florestas estacionais semideciduais que existem no centro do Estado de São Paulo. Essas florestas, que constituem a vegetação típica da Mata Atlântica, da mesma maneira que o Cerrado paulista, encontram-se altamente fragmentadas devido às diversas formas de uso e perturbações que vêm sofrendo ao longo dos anos.

Num primeiro momento, a partir de um olhar mais atento, constata-se que em remanescentes da região nordeste de Brotas é constante a presença de diversas trepadeiras lenhosas, de caules extensos, epífitas que encontram nas árvores um vasto suporte para se desenvolverem, podendo interferir na dinâmica natural da floresta de maneira positiva.

Devido aos chamados “efeitos de borda”, são diversos os fatores que passam a atuar nesses fragmentos florestais. Fatores como maior incidência de luz, clareiras e abundante disponibilidade de suportes contribuem para o aumento das trepadeiras nas florestas estacionais semideciduais. Por apresentarem crescimento mais rápido que as espécies arbóreas, as trepadeiras dominam as copas das árvores e o conhecimento da dinâmica desses vegetais faz-se necessário no estudo do manejo florestal devido à importância ecológica que representam. Verifica-se na figura 1, exemplo de fragmento florestal coberto por trepadeiras.

No interior dessas florestas é grande a diversidade biológica. A maior parte dos estudos sobre a distribuição e estrutura da tipologia vegetal tem focado nas espécies arbóreas e/ou arbustivas, contribuindo assim para a caracterização vegetal geral. Por meio destes estudos vêm sendo conhecidas a composição das espécies, a organização, a ecologia e a classificação das comunidades.

Dentre as espécies verificadas in loco, pôde-se constatar a presença de diversas árvores da família da bignoniacea, como por exemplo, o jacarandá-branco (Dalbergia brasiliensis) e o ipê-amarelo (Tabebuia Alba), da família da bombacaceae, como a paineira (Ceita speciosa) e da família da Lecythidaceae, como por exemplo, jequitibás brancos e rosas; este último, conhecido como árvore-símbolo do Estado de São Paulo. Além das trepadeiras e das espécies arbóreas mencionadas, a presença de orquídeas terrestres é constante, especialmente da Oeceoclades maculata, conforme flor pode ser verificada na figura 2. O solo no interior das florestas estacionais semideciduais é coberto por uma camada de matéria orgânica composta basicamente por folhas, raízes e troncos em decomposição.

Cabe ressaltar que esses fragmentos florestais existentes no nordeste do município de Brotas nem sempre vêm sendo conservados da maneira mais adequada. Muitas das espécies de flora, como as mencionadas acima, correm sérios riscos de extinção devido aos desmatamentos que vêm acontecendo – ainda que de maneira sutil - para dar lugar às monoculturas de eucalipto, pinus e cana-de-açúcar.

É comum na região em foco, encontrar árvores cortadas no interior da mata e trilhas mal planejadas, como diversas vezes pude verificar. Segundo relatos de moradores, a caça de animais silvestres é uma prática que vem acontecendo de maneira velada, o que se constitui em crime contra a fauna silvestre.
Por formar um mosaico paisagístico com biomas diversos (i.e. Cerrado em suas várias formas), a região apresenta grande variedade de animais que permeiam os remanescentes de floresta estacional semidecidual, utilizando-o frequentemente como corredores ecológicos e suporte para sua sobrevivência.

Devido a grande quantidade de biodiversidade existente, que do alto faz lembrar uma “colcha de retalhos”, podem ser encontradas isoladamente nas bordas da floresta, árvores e plantas que são típicas do Cerrado, o que faz com que a observação seja ainda mais interessante.
Foi constatada e registrada a presença de diversas aves e mamíferos na região.

Salienta-se que as espécies fotografadas estão longe de representar a vasta gama de biodiversidade existente na região e que, segundo relatos de moradores da zona rural de Brotas, vivem por ali: emas, onças-pardas, jaguatiricas, lobos-guarás, cobras e répteis variados, além de inúmeros outros pássaros.

sábado, 27 de outubro de 2012

Lista de filmes interessantes

    * 21 Gramas (Alejandro Gonzalez Iñárritu)
    * A Dança dos Vampiros (Roman Polanski)
    * A Idade de Ouro - Um Cão Andaluz - Co-escrito por Salvador Dalí - (Luis Buñuel)
    * A Ilusão Viaja de Trem (Luis Buñuel)
    * A Morte Passou por Perto (Stanley Kubrick)
    * A Proposta (Roteiro e Trilha sonora de Nick Cave)
    * Accatone (Pier Paolo Pasoline)
    * Alice Não Mora Mais Aqui (Scorcese)
    * Amarelo Manga (Cláudio Assis)
    * Apocalipsnow Redux (Coppola)
    * Asas Do Desejo (Wim Wenders) - Participação de Nick Cave
    * Ata-Me (Almodóvar)
    * Betty Blue (Jean-Jaques Beineix)
    * Cada Um Vive Como Quer (Bob Rafelson)
    * Caminhos Perigosos (Martin Scorsese)
    * Cidade dos Sonhos (David Lynch)
    * Contos Proibido de Marquês de Sade (Philip Kaufmam)
    * Coração Selvagem (David Lynch)
    * De Salto Alto (Almodóvar)
    * DodesuKaden (Akira Kurosawa)
    * Dogville (Lars Von Trier)
    * E La Nave Va (Fellini) - Atuação de Pina Bausch
    * Ensaio de Orquestra (Fellini) - Última composição de Nino Rota
    * Ensaio de Um Crime (Luis Buñuel)
    * Fale Com Ela (Almodóvar)
    * Grand Canyon (Lawrence Kadan)
    * Henry & June - Delírios Eróticos (Philip Kaufman) - Vida do escritor Henry Miller
    * Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (Guy Ritchie)
    * Kika (Almodóvar)
    * Laranja Mecânica (Kubrick)
    * Lavoura Arcaica (Luiz Fernando Carvalho)
    * Lili Marlene (Fassbinder)
    * Matador (Almodóvar)
    * Maus Hábitos (Almodóvar)
    * Medéia (Pasolini) - com Maria Callas
    * Minha Vida de Cachorro (Lasse Hallstron)
    * Mon Uncle (Jacques Tati)
    * Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (Almodóvar)
    * Mulheres e Luzes (Primeiro filme de Fellini)
    * Nascido Para Matar (Kubrick)
    * Noites de Circo (Ingmar Bergman)
    * O Agente da Estação (Tom Mccarthy)
    * O Alucinado (Buñuel) - Fotografia de Gabriel Figueroa
    * O Anjo Exterminador (Buñuel)
    * O Boulevard do Crime - Primeira Época (Marcel Carnê)
    * O Boulevard do Crime - Segunda Época (Marcel Carnê) Marcel Carnê (1909 - 1996) foi um dos expoentes do realismo poético, principal corrente estética do cinema francês nas décadas de 1930 e 1940.
    * O Céu de Lisboa (Win Wenders) - Trilha Sonora e Participação do Grupo Madredeus
    * O Esquecidos (Luis Buñuel)
    * O Homen Elefante (David Lynch)
    * O Iluminado (Kubrick)
    * O Incrível Exército de Branca Leone (Mario Monicelli)
    * O Jantar (Etore Escola)
    * O Processo (Orson Welles)
    * O Selvagem da Motocicleta (Coppola)
    * O Último Tango em Paris (Bertolucci, 1972)
    * O Violino Vermelho (François Girard)
    * Oliver Tuwist (Roman Polanski)
    * Os Sonhadores (Bertolucci)
    * Short Cuts - Cenas da Vida (Robert Altman)
    * Trem da Vida (Radu Mihaileanu)
    * Twin Peaks - Os Últimos Dias de Laura Palmer (David Lynch)
    * Uma História Real (David Lynch)
    * Veludo Azul (David Lynch)
    * Vertigo - Um Corpo que Cai (Hitchcock, 1958)
    * Viridiana (Buñuel) - A Santa Ceia dos mendigos – Paródia do quadro de Leonardo Da Vinci.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Um olhar geográfico sobre Araraquara, Mário de Andrade e a experiência do campo

São múltiplas e variadas as possibilidades de se conhecer o “ambiental”, possibilidades estas que propiciam um (re)encontro da Natureza, da cultura, do amor e da poética com o mundo. As pessoas poderiam se dar conta de que a arte, a poesia e a ciência são campos do real. Basta ler um pouco da obra de Guatarri e Deleuze para descobrir que é possível experimentar determinado campo do saber de maneira rizomática.

O Centro Cultural Prof. Waldemar Saffioti, da UNESP-Araraquara, volta e meia desperta minha atenção sempre que vejo de longe as árvores centenárias e as palmeiras imperiais, como uma ilha de verde em meio ao mar de telhados antigos do bairro do Carmo, e que certamente serviram de inspiração a Mário de Andrade (1893-1945) para escrever Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, em apenas seis dias (1927). O enredo não se passa na antiga chácara e dizem as línguas bifurcadas que o livro foi escrito numa banheira. Ele não era mesmo uma pessoa comum.

Macunaíma é uma obra-prima do Modernismo brasileiro e seu personagem foi criado pra retratar as pessoas libidinosas, malandras, preguiçosas e sonhadoras. O uso de algumas lendas folclóricas e indígenas, aliado ao desenrolar de um índio que sai da floresta amazônica e vai a São Paulo buscar seu talismã (muiraquitã) outrora furtado, e que se encontra em poder de um mascate peruano, pode fazer deste livro, muito lembrado pelos vestibulandos, um verdadeiro delírio em leitura de fim de semana.

A natureza jamais será descrita como cenário e apresentada como documento, mas nem por isso devemos desprezar o poder de nossa imaginação ao ler textos bem escritos e principalmente, buscar uma associação com o palco onde se dão as relações com o próximo e com o meio, seja natural e/ou urbano, como é o caso de Macunaíma, e que de certa forma me faz sentir a Geografia viva dentro de mim, cada vez mais.

Araraquara é uma cidade linda, cheia de árvores e contrastes com algumas ruas sem verde e personagens anônimos que lembram Macunaíma. Percebi isso quando vi trabalhadores rurais na prefeitura solicitando auxílio por terem perdido sua casa na roça para latifundiários, como num furto. Devido às possibilidades de conhecê-la e penetrá-la em sua área rural, propiciadas pela pesquisa de mestrado que realizei em 2008 e 2009, e que me fizeram sonhar em meio a um canavial com uma única árvore chamando a atenção para o fato de que ali já houve mata e gente, é perfeitamente possível e desejável preparar o espírito antes de ir a campo, e ir consciente da importância de se surpreender com algum inesperado amálgama de ciência, arte, história e cultura.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A questão do etanol de cana-de-açúcar, indicadores e a (in)sustentabilidade de seu desenvolvimento no Brasil

O etanol de cana-de-açúcar vem representando potencial alternativa de incremento à matriz energética dos combustíveis e desempenhando importante papel econômico, social e ambiental seja como produtor de combustíveis para transporte, seja como gerador de eletricidade a partir de seus subprodutos. Pode-se perceber desta maneira que é urgente e atual a necessidade de tratar a questão de forma integrada no âmbito da pesquisa acadêmica e da gestão, e alcançar assim, respostas consistentes que sirvam para reflexões sobre a abordagem da sustentabilidade na produção do etanol e outras fontes de energia derivadas da cana-de-açúcar - se é que é possível tal sustentabilidade. E eu acredito que não seja. Campos de saberes isolados não dão conta de tratar da realidade dos fatos que nos cercam.

Para o tratamento de questões em que são colocados em prática princípios teóricos e instrumentos obtidos pelo conjunto de políticas públicas, bem como sua atualização e ampliação, é necessário que o planejamento - entendido aqui sempre como um processo - seja coordenado, capaz de articular distintos setores governamentais e não governamentais, integrar ações e compatibilizar capacidade de suporte de ecossistemas, demanda de recursos financeiros e ambientais. Isso feito, podemos talvez falar em desenvolvimento socialmente justo e ambientalmente correto.

A implementação de um sistema de gestão ambiental que possibilite a negociação e soma de esforços de atores sociais e políticos, capazes de integrar e avaliar políticas locais, regionais e nacionais, pode vir a representar uma alternativa importantíssima para o início de outra forma de desenvolvimento, mais consistente e durável. A operacionalização da lógica sustentável e o emprego de indicadores no contexto da produção de etanol constituem num dos desafios de estudos científicos e tecnológicos na atualidade.

De acordo com diversos autores, o uso de indicadores como medidores de processo do desenvolvimento sustentável devem possuir as seguintes funções:

•    Reconhecer objetivos, criar metas e mostrar condições e tendências de gestão ambiental;
•    Fornecer antecipadamente informações de advertência e sinalizar necessidades de ações corretivas das estratégias de gestão;
•    Subsidiar os processos decisórios e disponibilizar informação relevante para o apoio e implementação de políticas em diferentes escalas (desde bairros até países);
•    Tornar a base para o gerenciamento dos impactos ambientais e avaliar a eficiência das alternativas;
•    Refletir a condição geral de um sistema e permitir análise comparativa temporal e espacial;
•    Prever prováveis situações futuras de riscos e vulnerabilidades socioambientais;
•    Orientar planos, políticas, programas e projetos de desenvolvimento.

O adequado modelo que dê suporte aos processos decisórios, públicos e/ou privados, na temática da sustentabilidade do etanol deve assim, possuir um sistema coerente e real de informações, primárias e secundárias, capaz de elencar ou criar indicadores que apontam facetas de desenvolvimento sustentável. O que se vê, no entanto em alguns meios acadêmicos, é o surgimento de trabalhos (dissertações e teses) que não refletem a realidade objetiva dos fatos ligados à produção de cana, etanol e açúcar no Brasil, servindo apenas para legitimar a crueldade que acontece com trabalhadores e com o meio ambiente pelo rótulo de "sustentável". É preciso ir a campo e imergir no cotidiano rural. Caso contrário, corre-se o risco de cair numa ingenuidade intelectual baseada apenas em bibliografia e opiniões.

"Mar de cana" - Interior do Estado de SP
Foto: Joviniano Netto

sexta-feira, 12 de outubro de 2012


sábado, 6 de outubro de 2012

Iniciando uma coleção de obras de arte e antiguidades

Colecionar obras de arte (pinturas, esculturas e fotografias) e antiguidades requer, de antemão, paciência e gosto para pesquisar sobre diferentes épocas, estilos, originalidade, obtenção de declaração de autenticidade das obras por especialistas e cotações nos mercados nacional e internacional. Em alguns casos, os chamados "certificados de autenticidade" podem ser fornecidos pelo próprio artista no momento da compra, pela galeria que o representa ou por peritos na área. 
Esse universo é incrível. E gosto, como sabemos, é algo também cultural. Estudos aprofundados para saber se uma obra de arte é autêntica podem ser os comparados que consideram, dentre outros meios, estilos, técnicas, caligrafia, assinaturas e documentos relacionados, como também aqueles que envolvem análises com usos de raio-x, fotografias com luzes infra-vermelhas e diversas, carbono 14, análises químicas, localização de impressões digitais e identificação, publicação de obras em livros e catálogos de exposições, dentre outros meios. Pesquisa arqueológica faz-se necessária em alguns casos. Isto dificulta o comércio de obras falsificadas ou reproduções e, no entanto, pode envolver alto custo financeiro.
É importante ter e consultar livros com fotos de desenhos, pinturas, gravuras, esculturas e outras formas de arte que possam compor um acervo. Visitar museus e exposições é fundamental. Quanto maior a diversidade, mais interessante e fácil fica reconhecer o que pode ser colecionável e, mais tarde, virar objeto de leilão e venda. 
Arte, além de servir pra decorar casas e escritórios, é um investimento. E dos bons, se considerarmos os altos valores de venda que algumas peças alcançam no mercado internacional. Só em São Paulo, por exemplo, no ano de 2012, o mercado de arte movimentou mais de 1 bilhão de reais. Pouca gente se dá conta de que uma obra de arte, depois de determinados anos, passa a ter, além do valor da autoria, o valor histórico; e este deve ser ponderado na valoração e avaliação.
Todas as semanas surgem dezenas de catálogos de leilões de obras de arte mundo afora. É interessante consultá-los. Isto nos dá uma ideia sobre os preços que obras de determinado artista alcançam em "casas de leilões oficiais" e servem como comparativo com obras compradas em feiras livres ou pela Internet.
Eu particularmente sigo a intuição e meu gosto quando saio para comprar algum trabalho artístico. Além de estudar história da arte por conta própria, exercito meu olhar e uso a fotografia como instrumento para análise e comparação (inclusive antes da compra, quando o proprietário permite fotografar). 
Boas obras podem ser compradas por baixo preço, principalmente quando quem vende não conhece nada sobre a obra e a trata como apenas mais um produto. Poucas vezes me senti um oportunista com isto, pois, cabe ressaltar que o tempo que é gasto com estudos e pesquisas também deve ser valorizado. Como marchand (profissional que vende obras de arte), é mais interessante comprar obra barata e vender por um preço alto. Algumas coisas têm valor histórico, artístico e cultural inestimável.
Nem todo mundo gosta de "velharias" ou "coisas velhas" e é aí que está o encanto. Trazer à tona o que ninguém valoriza. Pessoas morrem todos os dias, coleções são desfeitas por várias razões, autorias se perdem pela ilegibilidade da assinatura e a obra passa a ser vendida por uma mixaria.
Quando a coleção estiver consistente, recomendo que sejam feitos catálogos e criadas teorias em torno das obras e dos artistas. Um colecionador pode vir a tornar-se teórico, divulgar pintores e escultores "esquecidos", iluminar nossa ignorância em torno das variadas facetas da arte. 
Quase todo colecionador de obras de arte que conheço é, também, vendedor. Arte é coisa séria. Como tal, constitui-se em patrimônio material e muitas vezes sua conservação é de interesse da humanidade. Desta forma, em alguns casos incluindo o tombamento como um santo remédio, é interessante cadastrar a coleção no site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN, no sistema do Cadastro Nacional de Negociantes de Antiguidades e Obras de Arte, CNART.