quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Izrael Szajnbrum

Artista judeu polonês radicado no Brasil. Estudou na Escola Técnica Profissional Souza Aguiar, especializando-se em entalhações e na Escola Nacional de Belas Artes, tendo como professores Rodolpho Chambeland, Henrique Cavaleiro, Quirino Campofiorito e outros. Formou-se em Arquitetura pela Faculdade Nacional de Arquitetura e teve aulas de gravura com Carlos Oswald no Liceu de Artes e Ofícios. Empreendeu viagens pelo interior do Brasil, passando por Paraty, Ouro Preto, Congonhas, Salvador, dentre outras cidades, desenvolvendo importantes pinturas, muitas feitas ao ar livre.

Participou da Primeira Bienal de Arte de São Paulo expondo sua obra intitulada “O Mercado”. A exposição contou com a participação de artistas do quilate de Cândido PortinariAlfredo Volpi, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, José Pancetti, Iberê Camargo, Aldo Bonadei, Antônio BandeiraVictor Brecheret, Edi Cavalcanti, Lasar Segall, Bruno Giorgi, Oswaldo Goeldi e outros tantos importantes nomes da história da arte brasileira.

Izrael Szajnbrum dedicou-se exclusivamente à pintura, desenho, gravura e escultura. Algumas de suas obras encontram-se na Pinacoteca do Estado de São Paulo, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, no Museu Adolfo Bloch, no Museu de Congonhas (MG), na Sinagoga Talmud Torá (RJ), na Biblioteca Bialik (RJ), na Escola Sholem Aleichem (RJ), no Banco de Expansão Industrial do Rio de Janeiro, e em coleções particulares no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos.
Fundada na primeira metade do século XVII, elevada à categoria de vila em 1660 e de cidade em 1844, Paraty possui um dos mais belos conjuntos arquitetônicos coloniais do Brasil. Tombada por meio dos Decretos 1450 de 18 de setembro de 1945, do governo do Estado do Rio e Janeiro e do Decreto 58077 de 24 de março de 1966, do governo federal, a cidade foi redescoberta a partir da criação da BR 101, após o ano de 1973, e desde então vem passando por diversas transformações culturais, sociais e econômicas que são, inevitavelmente, refletidas numa nova visão do conjunto colonial.
A obra de Brum é um documento vivo de como era parte da Igreja Santa Rita, onde também funciona o Museu de Arte Sacra de Paraty, e da rua Santa Rita em 1974, ano em que realizou a pintura que ilustra este texto. Nesta década foi construída a estrada que circunda a cidade próxima ao mar, sendo realizados também alguns aterros no centro histórico que, infelizmente, modificaram o hábito de entrar na cidade com pequenas canoas pelas ruas nas marés cheias. Mesmo assim, Paraty ostenta um dos mais significativos conjuntos da arquitetura do período colonial do Brasil.


 Izrael Szajnbrum, 1974. Óleo sobre tela. 65 x 45 cm. 
Coleção particular. São Paulo, Brasil.
Foto: Joviniano Netto.

REFERÊNCIAS

AYALA, Walmir. Dicionário de Pintores Brasileiros. Edição revisada e ampliada por André Seffrin. Curitiba, Ed. da UFPR.

BRASIL. Decreto 58077 de 24 de março de 1966.

Catálogo da I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Enciclopédia Itaú Cultural: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa23388/izrael-szajnbrum

PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Apresentação de Antônio Houaiss. Textos de Mário Barata et al. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

RIO DE JANEIRO. Decreto 1450 de 18 de setembro de 1945.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Semana Global de Alfabetização Midiática e Informacional - Rede UNESCO-UNAOC MILID UNITWIN

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) tem desenvolvido importantes projetos, iniciativas, movimentos e esforços para melhorar a vida das pessoas e favorecer um mundo melhor. O tema “Alfabetização Midiática e Informacional: novos paradigmas para o diálogo intercultural” é atual e extremamente necessário. Sendo um evento global realizado aqui na Universidade de São Paulo nesta semana, me inscrevi para participar da VI Conferência da Rede UNESCO-UNAOC MILID UNITWIN e teço abaixo algumas opiniões ligadas ao tema de maneira direta ou indiretamente. A USP é uma das universidades-membros que compõem a rede internacional de universidades MILID, cujas pesquisas feitas em parcerias buscam capacitar as pessoas no campo da alfabetização midiática e informacional e reforçar sua participação por meio de sistemas livres e independentes.
Entender a alfabetização como o domínio formal da tecnologia, da mídia e da informação em sua forma primária, tem sido fundamental para a cultura na complexa conjuntura que diz respeito não apenas às fronteiras entre natureza e sociedade, mas também à emancipação do sujeito. A relação da humanidade com a tecnologia sempre foi, ainda que em proporções desiguais, desde os tempos imemoriais, simbiótica. Ao serem moldadas as técnicas e ferramentas, como num eco, somos também moldados; e isto é refletido no nosso dia-a-dia.
Aparelhos eletrônicos digitais parecem constituir parte de nossas redes neurais e sentidos. Há quem não consiga ficar sem um celular, sem acesso à internet e mesmo sem uma televisão ou rádio. Uma avalanche de informações é a cada minuto lançada no universo midiático e informacional e precisamos lidar com isso, pois pode ser desgastante, ainda mais em momentos de trabalho e lazer, se deparar com dados inesperados e desagradáveis.
Todavia, como usar a informação que nos chega para, na prática, transformar nossas vidas? O que aproveitar? Empoderar-se e empoderar pessoas por meio da alfabetização midiática e informacional é um desafio, mas o primeiro grande obstáculo para isto é que não é tarefa fácil, num país subdesenvolvido, suprir a necessidade de aparelhos digitais, ainda caros e inacessíveis para a maior parte da população. Muita gente no Brasil sequer sabe ler e escrever. Lembro-me bem que, apesar disto, quando atuei num projeto de capacitação para alfabetizadores no interior da Bahia em 1999, meus alunos da terceira idade e tutores do curso realizado na Universidade do Estado da Bahia, já se mostravam interessados pela globalização da informação e pela até então utópica possibilidade de acesso ao mundo virtual da comunicação, que na época era apenas anunciada na TV. A utopia virou realidade e a geografia da internet no Brasil se ampliou vertiginosamente. Os pilares e as dinâmicas desse fenômeno foram discutidos noutra ocasião, em curso promovido pela Associação dos Geógrafos Brasileiros em 2004 durante um Congresso Brasileiro de Geógrafos, em Goiânia. O acesso à tecnologia, à informação e aos dados disponíveis na rede cresce em todos os cantos do mundo. À última geração pode parecer que toda essa tecnologia é antiga e há muito faz parte de nossa sociedade. Nascemos com a necessidade de comunicação e nossos perfis na internet são quase como registros de nascimento.
A Conferência que começa hoje e a primeira Assembleia Geral da GAPMIL, com a aguardada Declaração de São Paulo sobre Alfabetização Midiática e Informacional, poderão nos auxiliar na elaboração de projetos mais ousados, sem dúvida. A partir de uma declaração e dos resultados de eventos como estes, analisados à luz das propostas e dos avanços das outras edições passadas, ter-se-á um norte a seguir na proposição de ideias e políticas públicas inclusivas no campo da mídia e da informação.
O que Fez, Barcelona, Cairo, Pequim, Filadélfia e São Paulo tem em comum além de serem grandes cidades inseridas no turismo internacional? - Elas sediaram, desde 2011, edições desse importante evento criado pela UNESCO. Pesquisei e encontrei iniciativas em alfabetização midiática e informacional nos países onde se localizam essas cidades. São vários os exemplos de esforços observados aqui na Universidade e em outros lugares do Brasil.
Uma das propostas de projeto voluntário de educação ambiental crítica que iniciamos há alguns meses na cidade de Americana, interior do estado de São Paulo, em consonância com as declarações das conferências passadas, aponta para a necessidade das pessoas exercitarem a criatividade e usar as redes complexas de maneira crítica, de modo a, junto ao Poder Público e outras entidades, contribuir para a melhoria da qualidade do lugar, uma unidade de conservação de proteção integral que se configura em diversos aspectos como área de conflito. Fotografar, filmar, gravar depoimentos e compartilhar isso em canais importantes de comunicação é uma forma de pressionar as autoridades a cumprirem os princípios de desenvolvimento sustentável; além de chamar a atenção para a comunidade local, que é estimulada a criar mídias e obras para serem expostas em dois momentos do projeto. A ação faz parte de um processo de empoderamento.
Outra experiência que está ligada à alfabetização midiática e informacional e ao empoderamento dela decorrente é a dos tibetanos. Estes têm usado a internet para mostrar sua cultura milenar e, lamentavelmente, as atrocidades cometidas pelas autoridades policiais chinesas em sua nação. Destruição de templos religiosos, torturas, perseguições e assassinatos são amplamente fotografados, filmados e transformados em mídia instantânea para todo o mundo. Informações são compartilhadas por sites importantes e pela sociedade civil organizada. Se como indivíduos, pouco podemos daqui fazer, além de rezar pela paz, efetuar doações monetárias e assinar petições públicas, pode-se ampliar a informação, fazê-la chegar aos que transitam pelo espaço cibernético em todo o mundo e formar opiniões. A história de muitos países foi escrita por uma elite minoritária e, entretanto, com o advento e desenvolvimento da tecnologia da informação no atual estágio, qualquer pessoa pode ser autora da própria vida e (re)escrever a história do lugar onde vive.
Quando nos dispomos a estabelecer redes virtuais, não apenas adicionando, aceitando contatos ou compartilhando conteúdos sobre diversos assuntos nos mais distintos canais da internet, estamos nos abrindo para um mundo ainda desconhecido e recente. Passamos a compartilhar desejos, gostos, visões, opiniões e, desta forma, a propor uma outra narrativa, um outro paradigma. Passamos e mostrar alguns modos de vida e a tomar conhecimento de outros. Esse diálogo intercultural é rico e desejável em todo o planeta. Vivemos em redes físicas e digitais onde o que mais se quer é a interação.
O acesso à informação tem sido cada vez mais democrático, mas ainda está longe de alcançar patamares ideais. Se buscarmos informações ou mídias sobre determinado assunto, a depender do canal de busca, normalmente pesquisamos por palavras-chave no idioma de interesse. O resultado de busca no Google, citando um dos mais importantes canais de pesquisa do mundo, é um leque indescritível de informações, culturais, artísticas, científicas ou de qualquer outra natureza. Eis a questão: o que fazer com isso e como empreender?
Com acesso à internet dá para explorar infinitas possibilidades de formação de redes. Por meio da análise de gráficos de acesso a este blog, por exemplo, é possível verificar qual aparelho foi usado para acessá-lo e qual a localidade. À distância do espectador e pela internet é possível apresentar parte do cotidiano e da vida, ensinar, aprender, conhecer experiências e se inspirar. Por meio do acesso às redes e às pessoas a elas conectadas pode-se envolver em diversas questões específicas ou gerais, trocar ideias, militar por uma causa e ampliar o campo de visão na vida prática.
É possível realizar cursos, superiores inclusive, à distância do espaço físico da escola com acesso à internet. Alguns são gratuitos e para isto basta um aparelho que possibilite fazê-lo. Obviamente que nada se compara ao encontro real, mas na impossibilidade, a importância da rede virtual é, por si só, muito grande e indiscutível. A complexidade dos fenômenos requer que não seja excluída a complementaridade entre os fatores.
O mundo está se tornando digital. O analógico está virando coisa de museu, de entusiasta, de artista, de colecionador. Hoje em dia criamos a arte, a fotografia, o livro virtual, a postagem, o videogame. Levantamos, elaboramos a informação e a transformamos em arquivos (relatórios, álbuns, ensaios, multimídias etc.). Quando disponíveis on-line, a depender das categorias de linguagem e dos tipos de suporte, podem ser estabelecidas comunicações efetivas entre o “criador do produto” e o “consumidor” em qualquer lugar da Terra. A arte digital e seus processos de restauração exigem, por seu turno, muito mais do que a alfabetização.
Surge então a necessidade do monitoramento e aperfeiçoamento contínuos. A julgar pelos temas que serão tratados, evidencia-se ainda mais a importância de uma conferência como esta que acontece aqui na USP e que tem como ponto de partida o primeiro contato com o universo midiático e informacional, a chamada “alfabetização”.
Matematicamente, a rápida dinâmica das linguagens digitais requer conhecimentos técnicos, conceituais e específicos, que transformem o obsoleto no novo com base em programações algorítmicas mais inteligentes capazes de recriar as bases de dados e de serem analisadas por diferentes ângulos. Apenas para ilustrar, o mercado de videogames é um dos que mais faturam no mundo. Os aplicativos interessantes e acessíveis ao público também se constituem num excelente filão do mercado na atualidade. Já chegamos a imaginar para diversos lugares, sempre incluindo como produto de projetos “acadêmico-científicos”, formais ou voluntários, o quão eficiente seria a criação de um game ou aplicativo que mostre a história e curiosidades animadoras capazes de amalgamar o usuário da mídia com o lugar representado. Uma cidade histórica, um parque natural, um ambiente cultural.
Como superar um paradigma e avançar? Somos referência em tecnologias da informação e brasileiros são criativos no que fazem, mas quase sempre nos esbarramos na falta de recursos humanos e financeiros para a realização de projetos. Diálogo é uma maneira de ação e nosso papel como educador é, em todo caso, o de propositor, ainda que não levemos as ideias até o fim.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Dia Mundial da Fotografia

Comemora-se hoje, 19 de agosto, o Dia Mundial da Fotografia. A data foi escolhida por ter sido, em 1839, anunciado na Academia de Ciências da França o primeiro processo fotográfico com o uso do daguerriótipo. Tal processo consiste na obtenção de imagens fotográficas por meio de placas de cobre ou outros metais revestidos com prata e expostos à luz, dando origem a uma superfície espelhada e posteriormente, com a retirada dos resíduos deste revestimento com betume, iodeto de prata ou soluções salinas, fixando-se a imagem. A sensibilidade das placas e a fixação foram aperfeiçoadas ao longo do tempo e hoje são utilizados diversos processos, sobretudo na criação de fotografias artísticas exclusivas. Fotografar é desenhar com a luz. Os pioneiros foram os franceses Joseph Nicéphore Niépce (1765-1833) e Louis Daguerre (1787-1851).
Dentre outros, dois dos grandes fotógrafos modernos que merecem ser destacados como referência são o francês Henri Cartier Bresson e o brasileiro José Juliani. Este último, considerado o grande fotógrafo de frente pioneira do norte do Paraná (Brasil).
Artes em destaque: Foto mais antiga tirada por Joseph Nicéphore Niépce por volta de 1826.
Primeira fotografia bem-sucedida (natureza-morta) tirada por Louis Daguerre em 1837.


quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Queimada no Parque Natural Municipal da Gruta - 13.08.2016

O fogo no cerrado é necessário e as árvores são adaptadas para enfrentá-lo. Muitas sementes germinam e várias espécies rebrotam com flores, num ciclo de vida impressionante. O problema se intensifica quando a queimada acontece sem levar em conta o manejo adequado, ainda inexistente. Os focos surgiram em diferentes pontos, destruindo as mudas nativas plantadas em ações de reflorestamento anteriores. Em todo caso, deve-se levar em conta que, embora o fogo seja um hábito cultural, o fato de se tratar de uma unidade de conservação de proteção integral e a necessidade de se considerar outros aspectos, sobretudo do ponto de vista conservacionista.


Taraxacum (planta medicinal) e queimada do cerrado e capim (brachiaria) ao fundo


Espécie de árvore do cerrado (angico) derrubada e queimada


Carvão vegetal


Visão parcial da queimada do cerrado


Voluntários tentando conter o avanço do fogo no Parque


Vista parcial da queimada, com destaque para a zona de amortecimento degradada por tratores na semana anterior, conforme carta aberta publicada e protocolada no Ministério Público


Fumaça decorrente da queimada e paisagem urbana de Americana ao fundo


Aechmea bromeliifolia - uma das espécies de bromélias que ocorrem no Parque


Fotos: Joviniano Netto (13.08.2016)


terça-feira, 16 de agosto de 2016

35 anos de idade: gratidão!

35 anos de idade. Uma imensa saudade de quando eu era criança e tinha a presença das pessoas que amo como um porto seguro. Sonhos, buscas e objetivos para realizar. É assim que me sinto hoje, 16 de agosto, dia de meu aniversário.
Nasci às 6h da manhã em Brumado, interior da Bahia. Permaneci até os 18 anos numa cidade próxima chamada Tanhaçu. Morei em São José do Rio Preto (SP), onde cursei uma faculdade de Direito e quase me formei; em Londrina (PR), onde conheci a Geografia e me apaixonei pelas ciências humanas; em São Carlos (SP), onde aprendi a me educar “ambientalmente” numa especialização e onde me tornei mestre em ciências; em Guatapará (SP), onde experienciei como professor de Geografia, o poder do magistério. Atualmente vivo em São Paulo, tendo o prazer do convívio de gente “fina, elegante e sincera” (parafraseando a canção “Tempos Modernos”, de Lulu Santos), a começar pelos meus amigos.
Apesar da infância e adolescência conturbadas, tive uma vida de muito aprendizado ao longo dos caminhos que fui construindo e que me foram aparecendo. Quase me casei e por pouco me tornei pai. [Quase] concluí muitos cursos. Convivi com pessoas maravilhosas nesse processo todo e descobri que a juventude é um estado da alma. Um eterno estado da alma que mesmo em situações de depressão não devemos deixar morrer. Eu já sabia disso desde cedo, pois sempre me relacionei com pessoas mais velhas do que eu e que eram, no entanto, mais jovens do que muita gente “nova” que conheci. Fui fazendo questão de guardar umas memórias e abandonando outras, fui deixando pelos caminhos apenas as marcas do que [quase] foi um dia.
Recebi algumas ligações e muitas mensagens de felicidades nas redes sociais e nos e-mails. Grande parte das pessoas me desejou um “ótimo ano” e “prosperidade”. Coisa boa é fazer aniversário e ter certa consciência nítida da vida a cada nascer do sol. E a cada despedida, ter a certeza de que no dia seguinte, por volta do mesmo horário que eu nasci, lá estará ele [o sol] novamente iluminando a vida na Terra.
Sinto muita gratidão e não poderia deixar de compartilhar neste blog, fruto do ócio e da distração virtual, um pouco do meu agradecimento. Afora os problemas que todos nós temos, viver tem me ensinado uma coisa: é preciso saber o que nos faz feliz e procurar amar o que se faz. Em tudo, mesmo quando nada parece dar certo, buscar amar o que se faz é um meio de encontrar alegrias. Aceito todos os votos de felicidades e deixo aqui meu melhor abraço. Que venham outros “anos”, cheios de paz, luz e graça. Para todos nós!

Americana, SP, 16 de agosto de 2016.

Disponível em: http://bit.ly/2blBF2V

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Breve reflexão sobre o desenho de joias contemporâneas

As joias contemporâneas - da mesma maneira que a arte de nosso tempo - vêm assumindo formas e características peculiares. Os materiais usados, especialmente com o advento da industrialização, se diversificaram. No design, em muitos casos, percebe-se ausência de critério estético. São peças desenhadas e confeccionadas para exibição momentânea, descompromissadas de propósito embelezador. Algumas parecem ter saído do “ferro-velho” diretamente para os corpos, modificando assim o próprio conceito de joia. Não desmerecendo a tendência, pois tudo na arte é válido como intenção criadora, considero o máximo da joalheria contemporânea joias valiosas que lembram bijuterias baratas e exigem algum esforço na identificação dos materiais. Peças de ouro banhadas em ródio negro ou oxidadas, com aspecto de ferrugem, são para apreciar.
Há 10 anos esbocei alguns desenhos de joia para uma amiga que queria reunir em poucas peças todas as gemas que ela tinha. Eram 300 pequenos rubis rosas, 300 minúsculos diamantes, uma morganita quadrada e uma enorme água-marinha azul esverdeada retangular com cerca de 70 quilates, lapidação esmeralda. Na ocasião, tive a ideia de criar dois broches que pudessem ser usados também como pingentes. Resolvemos que a morganita ficaria ladeada com os rubis e diamantes numa caixa de ouro rosa e a água-marinha, pela perfeita lapidação e raridade, numa discreta estrutura de platina sem nenhuma outra pedra. Com o passar do tempo perdi os desenhos e o contato com essa amiga, dona de um pensionato onde morei, mas as joias foram feitas com primor.
Poucas coisas são mais hipnotizantes do que gemas na lapidação esmeralda e diamantes em estojos de veludo. Detalhes de uma de joia são fundamentais para quem aprecia. Se o que se quer é qualidade, deve-se entregar a tarefa a um ourives experiente. Pelo brilho e pelas cores, as pedras preciosas que mais admiro são as do grupo do berilo. Após um curso de desenho de joias que fiz no SENAC, ministrado pelos talentosos professores Alain Monteiro e Dalva Ferrari, em que era preciso desenvolver um portfólio ao final, recomendei ao meu primeiro cliente, que todas as peças fossem feitas em platina, ouro branco ou prata se o propósito for seguir à risca meu projeto autoral. O foco que me interessa no universo da joalheria é sempre a gema. A função do metal, neste caso, é compor a estrutura da peça que, às vezes, é única.
Quando mulher (ou homem, por que não?) usa uma joia de maneira elegante tem-se a harmonia perfeita. Elegância é muito mais postura e comportamento do que exibicionismo. Nada contra a atitude de quem coloca um objeto precioso no corpo e faz questão de mostrar o tempo todo. Isso chega a ser engraçado. Elegância está associada à simplicidade, último grau de sofisticação nas palavras de Leonardo Da Vinci.
Uma joia, mesmo sendo de época, deve ser atemporal e simultaneamente marcar um estilo. Deve ser feita para durar. Não apenas levar em conta modismos de passarela, do mundo fashion e fotográfico. Extravagante ou discreta, delicada ou grosseira, com ou sem gemas, necessita ter identidade para acrescentar algo e marcar presença. Independentemente do preço, este é o verdadeiro poder de uma joia: encantar!
Pesquisei centenas de desenhistas e joalheiros ao longo daqueles meses de curso. Alguns estão listados na barra direita deste blog. Com exceção de clássicos da pintura que retrataram joias em suas naturezas-mortas, como Brueghel e Evert Collier, pintores que admiro num contexto mais amplo, a maior referência que conheço no design de joias é o francês René Lalique (1860-1945). No design contemporâneo, também verificando algumas semelhanças nas formas com os trabalhos de Lalique, merece destaque a produção do brasileiro Fernando Jorge e da inglesa Hollie Bonneville Barden, ambos radicados em Londres. Estes têm produzido verdadeiros feitos no universo do design da joalheria artística contemporânea.
Arte em destaque: “Poppy”, 1897 – René Lalique. © Musée d'Orsay.


quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Flávio de Carvalho

Nascia neste dia em Barra Mansa (Rio de Janeiro), em 1899, o artista, desenhista, pintor, arquiteto, engenheiro, escritor, filósofo e antropólogo amador (dentre outras atuações) Flávio de Rezende Carvalho. Considerado um dos grandes nomes da arte e da arquitetura modernista brasileira, Flávio de Carvalho apresentou seu trabalho pela primeira vez em 1931 no Salão Revolucionário da Escola de Belas Artes, expondo ao lado de Cândido Portinari, Lasar Segall, Cícero Dias, entre outros. Com Di Cavalcanti, Antônio Gomide e Carlos Prado, fundou o Clube dos Artistas Modernos (CAM) em 1932, afirmado pela marcação de distâncias em relação à Sociedade Pró-Arte Moderna. Inspirado em Nietzche e Freud, desenvolveu estudos transdisciplinares, sendo que seus melhores desenhos, pinturas e esculturas possuem características surrealistas e expressionistas. Enquanto liderava o CAM, Flávio de Carvalho dizia provocativamente: “detestamos elites; não temos sócios doadores”.
Arte em destaque: Autorretrato de Flávio de Carvalho. © Museu de Arte Contemporânea da USP.


terça-feira, 9 de agosto de 2016

Carta aberta à sociedade americanense, à sociedade paulista, à sociedade brasileira, ao Ministério Público do Estado de São Paulo, à Justiça Federal e aos gestores municipais de áreas naturais protegidas sobre o Parque Natural Municipal da Gruta

Americana, 08 de agosto de 2016.


Carta aberta à sociedade americanense, à sociedade paulista, à sociedade brasileira, ao Ministério Público do Estado de São Paulo, à Justiça Federal e aos gestores municipais de áreas naturais protegidas sobre o Parque Natural Municipal da Gruta[1].



O Parque Natural Municipal da Gruta, situado no município de Americana, estado de São Paulo, é uma unidade de conservação de proteção integral de acordo com o Decreto 6.980/06, alterado posteriormente pelo Decreto 7.003/06. Entretanto, apresenta diversos impactos socioambientais negativos como, por exemplo, o lançamento de esgotos sem tratamento nos corpos d’água, descarte de lixo, entulho e desflorestamento, sobretudo em sua zona de amortecimento.
Numa das áreas mais sensíveis do Parque, situada à margem direita da primeira e maior queda d’água da unidade de conservação e onde forma-se a gruta, precisamente na continuidade da Avenida Tietê em confluência com a Rua Benedito das Chagas, há uma série de irregularidades. Denominada como quadra 5 no processo original de loteamento do bairro São Roque, caracteriza-se como zona de amortecimento.
Zona de amortecimento é a área situada na borda de uma unidade de conservação (municipal, estadual ou federal) e tem como objetivo filtrar e diminuir impactos negativos de atividades antrópicas que ocorram fora dela. Definida pelo artigo 2º da Lei 9.985/2000[2] (lei que regulamenta o artigo 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, instituindo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza), inciso XVIII, zona de amortecimento é “o entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade”.
O artigo 25 da Lei 9.985/2000 estabelece que “unidades de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, devem possuir uma zona de amortecimento e, quando conveniente, corredores ecológicos”. De acordo com os respectivos parágrafos 1º e 2º do artigo 25 da mencionada Lei, “o órgão responsável pela administração da unidade estabelecerá normas específicas regulamentando a ocupação e o uso dos recursos da zona de amortecimento e dos corredores ecológicos de uma unidade de conservação” e “os limites da zona de amortecimento e dos corredores ecológicos e as respectivas normas de que trata o § 1º poderão ser definidas no ato da criação da unidade ou posteriormente”.
Segundo o § 1º do artigo 27 da Lei do SNUC, “o Plano de Manejo deve abranger a área da unidade de conservação, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas”.
O artigo 36 dessa Lei deixa claro que “nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo impacto ambiental, assim considerado pelo órgão ambiental competente, com fundamento em estudo de impacto ambiental e respectivo relatório – EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral, de acordo com o disposto neste artigo e no regulamento desta Lei”. Em seu parágrafo 3º estabelece que “quando o empreendimento afetar unidade de conservação específica ou sua zona de amortecimento, o licenciamento a que se refere o caput deste artigo só poderá ser concedido mediante autorização do órgão responsável por sua administração, e a unidade afetada, mesmo que não pertencente ao Grupo de Proteção Integral, deverá ser uma das beneficiárias da compensação definida neste artigo”.
O parágrafo único do artigo 46 desta Lei (que estabelece que “a instalação de redes de abastecimento de água, esgoto, energia e infra-estrutura urbana em geral, em unidades de conservação onde estes equipamentos são admitidos depende de prévia aprovação do órgão responsável por sua administração, sem prejuízo da necessidade de elaboração de estudos de impacto ambiental e outras exigências legais) diz que “esta mesma condição se aplica à zona de amortecimento das unidades do Grupo de Proteção Integral, bem como às áreas de propriedade privada inseridas nos limites dessas unidades e ainda não indenizadas".
O artigo 49 estabelece que “a área de uma unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral é considerada zona rural, para os efeitos legais”, complementando em seu parágrafo único que “a zona de amortecimento das unidades de conservação de que trata este artigo, uma vez definida formalmente, não pode ser transformada em zona urbana”.
Por fim, o artigo 57-A da Lei em questão (Lei 9.985/2000) define que “o Poder Executivo estabelecerá os limites para o plantio de organismos geneticamente modificados nas áreas que circundam as unidades de conservação até que seja fixada sua zona de amortecimento e aprovado o seu respectivo Plano de Manejo”.
A área situada à margem direita da primeira e maior queda d’água do Parque Natural Municipal da Gruta vem sendo degradada com o auxílio de tratores e está passando por processo de divisão dos lotes sem considerar a Lei supracitada.
Conforme constatado em diversas visitas in loco, trata-se de uma área de transição do Cerrado em regeneração para a Mata Atlântica e compreende a zona de amortecimento do Parque. Isto se constitui, além de crime ambiental, num desrespeito à unidade de conservação e à capacidade de resiliência do Parque já bastante degradado.
Outro agravante é que diversas plantas do Cerrado foram arrancadas e estão sendo soterradas, como verificado e registrado fotograficamente no dia 08 de agosto de 2016. Este fato também não leva em conta a Lei 13.550[3], de 2 de junho de 2009, que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do bioma Cerrado no Estado de São Paulo, dando providências correlatas.
De acordo com o artigo 4º da Lei de Proteção do Cerrado, mencionada no parágrafo anterior, “é vedada a supressão da vegetação em qualquer das fisionomias do Bioma Cerrado nas seguintes hipóteses: ... Inciso IV – Localizada em zona envoltória de unidade de conservação de proteção integral e apresentar função protetora da biota da área protegida conforme definido no plano de manejo”. O Cerrado é o bioma mais antigo da Terra e no Estado de São Paulo resta apenas 0,013%[4], merecendo que todo e qualquer fragmento de vegetação, ainda mais quando situado próximo a uma unidade de conservação, seja preservado.
Convém pontuar que a atual configuração dos lotes não respeita a planta original, sendo ela subdividida, certamente negligenciando as leis. E, segundo informações de moradores do entorno, é prevista a construção de quatro edifícios na área supracitada, um dos motivos pelos quais a zona de amortecimento do Parque vem sendo destruída.

CONCLUSÃO

Por meio desta carta aberta, viemos denunciar o descaso recorrente da gestão pública e de proprietários particulares com o Parque. Apelamos para que as autoridades de todas as instâncias intervenham efetivamente para que a área do Parque e a zona de amortecimento sejam integralmente recuperadas; que a população e prefeitura parem imediatamente de lançar todo tipo de resíduos humanos na área, evidenciando o eminente risco de perda irreversível desse patrimônio natural; e que o setor privado não construa casas e edifícios na frágil zona de amortecimento do Parque, área de Cerrado, que deve ser recuperada.
Entendemos que, diante do atual cenário de degradação, é dever moral, ético e legal que a administração pública salvaguarde esse patrimônio, com ricos componentes da flora e fauna do Cerrado paulista e da Mata Atlântica, bem como seu valor paisagístico, geológico, científico, cultural e educacional; singularidades de gabarito regional que justificam a proteção integral e o manejo adequado. É necessário que a polícia ambiental tenha uma atuação mais efetiva, que os ministérios públicos sejam mais sensíveis à relevância do Parque, que seja ampliada a fiscalização dos recursos destinados à área com implementação urgente de ações de preservação.
As Imagens 1 e 2 mostram as raízes dos biomas Cerrado e Mata Atlântica arrancadas recentemente da zona de amortecimento do Parque Natural Municipal da Gruta. Ao que tudo indica, essas raízes serão soterradas tal como observado noutras áreas do Parque.


Imagem 1 - Foto: Joviniano Netto, 08/08/2016.

Imagem 2 - Foto: Joviniano Netto, 08/08/2016.

As Imagens 3 e 4 revelam como a vegetação tem sido destruída e soterrada pelo atual proprietário da área situada na zona de amortecimento do Parque. 

 Imagem 3 - Foto: Joviniano Netto, 08/08/2016.

Imagem 4 - Foto: Joviniano Netto, 08/08/2016.

As Imagens 5 e 6 mostram algumas plantas em regeneração na zona de amortecimento do Parque.

Imagem 5 - Foto: Joviniano Netto, 08/08/2016.

Imagem 6 - Foto: Joviniano Netto, 08/08/2016.

As Imagens 7 e 8 apontam o deslocamento de terra para o talude da margem direita da primeira e maior queda d’água do Parque Natural Municipal da Gruta e um processo de erosão também verificado em outros pontos.

Imagem 7 - Foto: Joviniano Netto, 08/08/2016.

Imagem 8 - Foto: Fábio Ortolano, 08/08/2016.

A Imagem 9 retrata o aspecto geral da zona de amortecimento do Parque tratada nesta Carta. A área de Cerrado encontra-se em regeneração, mas apesar disto, está em processo de destruição por conta da intervenção humana.

Imagem 9 - Foto-montagem panorâmica: Joviniano Netto, 08/08/2016.



[1] Disponível em: http://amigosdagruta.blogspot.com.br/2016/08/carta-aberta-sociedade-americanense.html. Acesso em 08 de agosto de 2016.
[2] Disponível em:  http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=322. Acesso em 08 de agosto de 2016.
[3]Disponível em: http://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/lei/2009/lei-13550-02.06.2009.html. Acesso em 08 de agosto de 2016.
[4] Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento da UFG. Disponível em: https://www.lapig.iesa.ufg.br/lapig/. Acesso em 08 de agosto de 2016.

domingo, 7 de agosto de 2016

Possibilidades e desafios: turismo no Parque Natural Municipal da Gruta, Americana, SP, Brasil

O presente artigo tem como objetivo construir um panorama teórico e programático para o desenvolvimento do ecoturismo no Parque Natural Municipal da Gruta, em Americana, Estado de São Paulo. Busca-se, assim, desvelar um cenário de possibilidades turísticas no município diante de um contexto político-econômico promissor ao desenvolvimento e planejamento público das atividades turísticas em âmbito estadual. Contudo, repleto de desafios locais na proteção e promoção de seus instrumentos urbanos e atrativos voltados ao lazer. Por meio de uma pesquisa-ação, foi articulado junto ao poder público um Fórum de Turismo e Desenvolvimento Local e, por meio da participação na formação de uma associação em prol do Parque, foram organizadas algumas ações emergenciais como a recuperação dos biomas originais e, consequentemente, dos processos ecológicos; a construção de instalações ecoturísticas; o tombamento do Parque junto aos órgãos competentes e um estudo sobre pertencimento da população, de modo que tais intervenções confiram às potencialidades do Parque uma vocação para a prática do turismo com ênfase no lazer e na memória, sendo referência para o município. Para ler o artigo completo acesse o site da Revista Rosa dos Ventos: http://bit.ly/2arXfWb


Aspecto da paisagem de um dos pontos críticos do Parque Natural Municipal da Gruta, Americana, SP, Brasil. Foto: Joviniano Netto.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Educação ambiental crítica: a participação popular e o papel do Poder Público no enfrentamento de problemas ambientais no Parque Natural Municipal da Gruta - Americana, SP


RESUMO

O presente projeto de pesquisa busca compreender como a Educação Ambiental Crítica pode contribuir para a conservação de ambientes naturais degradados. Para tanto, utiliza como estudo de caso uma unidade de conservação de proteção integral localizada no município de Americana, estado de São Paulo. Os trabalhos envolvem, além de visitas in loco ao Parque Natural Municipal da Gruta, a participação de atores ligados à gestão pública dos recursos naturais e da população de entorno. A proposta está alinhada a uma das recomendações feitas pelo Grupo de Trabalho “Turismo e Meio Ambiente” do Fórum de Turismo e Desenvolvimento Local, realizado na Câmara de Americana em novembro de 2015. Trata-se de um projeto ambiental voluntário, sem financiamento de órgãos de fomento ou instituições públicas e privadas.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, a Educação Ambiental surgiu como uma maneira de despertar e sensibilizar as pessoas para a necessidade de diminuir e/ou evitar os problemas causados pelos atuais modelos de desenvolvimento econômico que afetam direta ou indiretamente a qualidade de vida das populações e o meio ambiente de maneira geral.
O crescente avanço da degradação da natureza causado pelo uso rápido e indiscriminado dos recursos naturais tem mostrado que nem todos se preocupam com o desenvolvimento sustentável e com a qualidade de vida das gerações futuras.
No entanto, ao longo da história humana, muitas são as reflexões que mostram preocupação e interesse em conservar a natureza, seja por respeito, ou ainda, como um alerta para nossa dependência dos recursos naturais. A exploração desenfreada dos recursos naturais interfere drasticamente nos ciclos biológicos e influenciam a vida e o comportamento humanos.
Guimarães (2004) enfatiza que a educação é um potencial propulsor de dinâmicas do sistema social e um importante meio de luta que põe em conflito as forças sociais que a sociedade deseja reproduzir, bem como as coloca em conflito com as forças sociais que pretendem transformar a sociedade, chamando a atenção para o fato de que a Educação Ambiental não deve ser considerada algo fora da dinâmica social, correndo o risco de, neste caso, provocar ações educativas não críticas da realidade, ainda que sejam bem intencionadas, o que, por sua vez, podem resultar em posturas politicamente conservadoras.
A reflexão crítica em Educação Ambiental tende a desvelar realidades socioambientais estruturadas por relações de poder constitutivas de relações entre indivíduos, sociedade e natureza, sendo que a compreensão da realidade social e ambiental proporciona clareza para que ocorram ações críticas de intervenção no processo social, considerando múltiplas determinações e gerando, desta maneira, uma ruptura com os moldes paradigmáticos (GUIMARÃES, 2004).
Entretanto, a proposta crítica em Educação Ambiental ainda é pouco conhecida e divulgada entre os profissionais que trabalham com educação ambiental. Isto ocorre porque a Educação Ambiental crítica ainda não possui uma prática visível consolidada como, por exemplo, acontece com a Educação Ambiental conservadora. Para que a Educação Ambiental crítica se consolide como prática efetivamente emancipatória e transformadora é necessário que os trabalhos na área e as reflexões sejam interdisciplinares e levem em conta os diferentes conhecimentos históricos, geográficos, biológicos, políticos e socioeconômicos, incentivando a formação do cidadão crítico e capacitando-o a fazer reflexões e interferir em seu mundo.
A formação de consciência ambientalista envolve a busca e aquisição de conhecimentos de aspectos locais da ecologia, da cultura e da sociedade por meio da práxis da Educação Ambiental. Desta forma é possível reformular comportamentos e recriar valores perdidos ou ainda não alcançados. A transformação de comportamentos pode possibilitar a conscientização de populações sobre a necessidade de uma relação mais harmoniosa por parte de todos com o meio ambiente, constituindo-se também numa exigência básica para o alcance do desenvolvimento sustentável.
Atribuir sentidos à biodiversidade por meio do diálogo, considerando os aspectos sociais e políticos na conservação e também, as múltiplas abordagens que o conceito trata é papel da Educação Ambiental, pois tais ações envolvem possibilidades educativas como, por exemplo, a sensibilização e o encantamento estético (CARVALHO, 2006). Além disto, a Educação Ambiental pode amalgamar o ser humano com a natureza e lhe conferir um espécie de “maravilhamento” diante da biodiversidade e do meio ambiente.
De acordo com a definição dada na Conferência Intergovernamental de Tbilisi realizada em 1977, a Educação Ambiental é um processo de reconhecimento de valores e clarificações de conceitos, e tem como objetivo o desenvolvimento das habilidades humanas, modificando as atitudes em relação ao meio e buscando entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas distintas culturas e seus meios biofísicos (BRASIL, 2013). A Educação Ambiental também está relacionada com a prática das tomadas de decisões e a ética que conduzem para a melhora da qualidade de vida (BRASIL, 2013).
A Educação Ambiental foi definida no Congresso de Belgrado, realizado em 1975 como um processo que busca formar população mundial consciente e empenhada em resolver os problemas que dizem respeito ao meio ambiente, estimulando a formação de população com conhecimentos, competências e motivações para participar no engajamento que permita trabalhar individualmente e coletivamente para solucionar tais problemas atuais e impedir que estes se repitam (SEARA FILHO, 1987).
A Carta de Belgrado (1975) e as Orientações de Tbilisi (1977) dispõem que há a necessidade de uma nova ética global capaz de promover atitudes e comportamentos para os indivíduos e sociedades de acordo com o lugar da humanidade na biosfera, e que reconheça e responda com sensibilidade às dinâmicas e complexas relações do Homem com a natureza e entre os distintos povos. As mudanças significativas necessitam ocorrer em todas as nações da Terra para assegurar um tipo de desenvolvimento racional orientado por esta nova ideia global (CARTA DE BELGRADO, 1975). A Carta de Belgrado é um dos mais lúcidos documentos da década de 1970, pois além de tratar sobre a satisfação das necessidades dos cidadãos do mundo, propõe que sejam resolvidas as causas básicas da pobreza, da fome, do analfabetismo, da poluição, da exploração e dominação, devendo ser tratados de maneira conjunta (DIAS, 2000).
Desta forma, cabe à Educação Ambiental fornecer os conhecimentos necessários na interpretação dos fenômenos complexos que configuram o meio ambiente, bem como fomentar valores éticos, econômicos e estéticos que constituem a base da autodisciplina, e também favoreçam o desenvolvimento de comportamentos que estejam de acordo com a preservação e a melhoria do meio (UNESCO, 1997).
De acordo com a Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972, a melhoria e a defesa do meio ambiente para as gerações presentes e futuras são objetivo comum da humanidade. Porém, para que surtam efeito é necessário que se criem e adotem novas estratégias com fins a este objetivo. A Educação Ambiental necessita abarcar pessoas de todas as idades e níveis escolares tanto no âmbito do ensino formal, como no ensino não-formal.
Os meios de comunicação social possuem grande responsabilidade de disponibilizar recursos a serviço dessa missão educativa e os especialistas em educação ambiental e meio ambiente devem produzir ações e decisões que repercutam significativamente na natureza e no meio urbano. Compreendida devidamente, a Educação Ambiental deve compor o ensino geral, atuando nas mudanças que se produzem num mundo em constante e rápida evolução. Há também a necessidade de possibilitar ao cidadão a compreensão dos principais problemas contemporâneos em diversas escalas, adotando um enfoque global que tenha como fundamento uma ampla base interdisciplinar. A educação contribui para vincular os atos presentes com as consequências futuras e, além disto, para demonstrar solidariedade entre o gênero humano, mostrando interdependência entre as comunidades.
Na década de 1980, em especial em 1985, é criado pelo governo brasileiro o Parecer 819/85 do Ministério da Educação (MEC), em que são reforçadas as necessidades de inclusão de conteúdos ecológicos no processo de formação do ensino de 1º e 2º graus, integrados em todas as áreas do conhecimento de forma sistematizada e progressiva, com a finalidade de formar consciência ecológica do futuro cidadão.
Em 1988 a Constituição da República Federativa do Brasil dedica o capítulo VI ao Meio ambiente e o artigo 225, inciso VI, à Educação Ambiental, determinando ao Poder Público que se promova a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino.
Na década de 1990, no ano de 1991, surge a Portaria 678/91 do MEC, determinando que a educação escolar deva contemplar a Educação Ambiental permeando todo o currículo dos diferentes níveis de ensino, enfatizando a necessidade de investir na capacitação de professores em tal área. Ainda neste ano, surge a Portaria 2421/91 do MEC, em que é instituída o caráter permanente de Grupos de Trabalhos de Educação Ambiental com o objetivo de definir junto às Secretarias Estaduais de Educação, as metas e estratégias para a implantação da Educação Ambiental no Brasil e elaborar propostas de atuação do MEC no ensino formal e não-formal para a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento que veio a acontecer no ano de 1992.
A Conferência da ONU sobre Meio ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Rio-92, promoveu um workshop com o objetivo de socializar os resultados de experiências nacionais e internacionais de Educação Ambiental, bem como discutir metodologias e currículos. Deste encontro surgiu a Carta Brasileira para a Educação Ambiental.
Em 1996 é criada a Lei nº. 9.276/96 que estabelece o Plano Plurianual do governo 1996/1999, definindo como principais objetivos do campo do meio ambiente, a promoção da Educação Ambiental por meio da divulgação e uso de conhecimentos sobre tecnologias de gesto sustentável dos recursos naturais, sendo que a coordenação de Educação Ambiental promoveu alguns cursos de capacitação de multiplicadores em Educação Ambiental.
Muitos foram os encontros e cursos de capacitação que surgiram nos anos seguintes, sendo que em 1999 foi promulgada a Lei nº. 9.795 de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental com a criação de grupos de trabalho e câmara técnica temporária de Educação Ambiental no Conselho Nacional de Meio Ambiente.
No que se refere ao município de Americana, SP, área da presente pesquisa, é evidente a preocupação de incluir a Educação Ambiental como processo de desenvolvimento da cidadania, bem como nas escolas municipais mantidas pela Prefeitura nos ensinos fundamental e médio, conforme programas que devem ser elaborados pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, por professores e agentes que promovem o turismo em áreas naturais.
São variados os paradigmas de pesquisa em Educação Ambiental e acredita-se que não seja possível ter um perfil ou uma “receita” pronta para o pesquisador que lide com este tema complexo e não homogêneo. De acordo com Sato e Santos (2003), as três principais vertentes e respectivas pesquisas em Educação Ambiental são: a Vertente Positivista; a Vertente Construtivista; e a Vertente Sócio-construtivista ou Vertente Crítica, detalhadas abaixo:

  • A Vertente Positivista é fortemente marcada por pesquisas empíricas baseadas na observação. Possui natureza ecológica e tem ênfase na informação, estabelecendo relações hierárquicas de poder com o professor, que se situa no centro e os alunos na periferia. Baseia-se no objetivismo em que conhecimento é derivado, cumulativo e progressivo. A interação não é estimulada e a pesquisa visa a possibilitar generalizações. Os comportamentos são quantificados, sendo que o foco nas metodologias são os maiores instrumentos para validação desta vertente. No entanto, essa concepção implica em certas condições operacionais da escola, em que o professor que não domine a crítica necessária nos métodos empíricos das análises estatísticas não consegue testar a validade dos resultados obtidos com os objetivos que foram propostos.
  • A Vertente Construtivista surgiu da crítica à vertente acima, mais especificamente da crítica aos paradigmas analíticos. Esta vertente é baseada na aceitação da realidade multifacetada ou na ontologia relativista. Ou seja, a realidade existe apenas no contexto do horizonte construído e é socialmente construída com múltiplos significados. O método da Vertente Construtivista revela apenas o que está implícito a priori; a construção individual é desenhada por meio da interpretação, sendo que somente após as comparações é possibilitado o conhecimento. Cabe destacar que nesta vertente não há clara intenção de transformar a leitura do mundo. Assim sendo, Robottom & Hart (1993 apud SATO; SANTOS, 2003) esclarece que limitando a construção do conhecimento e considerando apenas o contexto e a realidade individuais, esta vertente apresenta-se como somente um fim justificável para as questões educacionais, em vez de ser um processo de transformação da realidade.
  • A terceira vertente trata da Teoria Crítica, nosso foco na presente pesquisa, que, por sua vez, é descrita como uma pesquisa ideologicamente orientada. Esta vertente busca desenvolver posturas analíticas com argumentos, procedimentos e linguagem com uma lente relacionada com as questões de poder. Se por um lado a vertente positivista tem um interesse apenas técnico-instrumental e os construtivistas um interesse prático-comunicativo, os que defendem a Teoria Crítica defendem a ação-constitutiva de emancipação. O conhecimento é generativo, emergente, dialético; e as pesquisas buscam a transformação das realidades como sujeitos no processo histórico de realidades multifacetadas (SATO; SANTOS, 2003).

O propósito da pesquisa da Teoria Crítica é a emancipação dos atores sociais por meio das críticas das desigualdades (práxis para a transformação); a natureza da realidade é múltipla, construída, divergente e comprometida com questões ligadas com a igualdade; a natureza do conhecimento (epistemologia) é marcada por fatos compreendidos num contexto econômico e social, com ênfase nas posturas críticas e na práxis ideológicas; e a relação entre o pesquisador e a descoberta está inter-relacionada e comprometida com a emancipação das sociedades e/ou dos grupos sociais.
A Educação Ambiental Crítica, que se baseia na Teoria Crítica supracitada, deve, assim, incentivar a formação do cidadão crítico e capacitá-lo a fazer reflexões sobre seu mundo e a interferir no mesmo. De acordo com Loureiro (2004) e Guimarães (2004), a tendência crítica em Educação Ambiental caracteriza-se como transformadora e emancipatória e possui atitude reflexiva frente aos desafios que a crise civilizatória atual nos põe, e parte do princípio de que a maneira como vivemos não atende aos anseios de todos, necessitando que sejam criados novos caminhos.
Este campo da Educação Ambiental pauta-se no entendimento amplo da participação social e da cidadania como prática imprescindível para o exercício da democracia. Assim, a democracia é condição para a construção da sustentabilidade, item indispensável da Educação Ambiental Crítica. O desafio da Educação Ambiental Crítica é, portanto, reestruturar as orientações e os métodos que até então tem sido usados pela Educação Ambiental.
Para isto, é necessário considerar os pontos de vista de grupos envolvidos, seja em escolas ou nos órgãos públicos ambientais, no intuito de entender quais as representações sociais que norteiam, os objetivos e as ações dos grupos diante das distintas realidades socioambientais e dos problemas observados, indicando possíveis soluções.
Ao ser iniciada uma proposta de Educação Ambiental Crítica é necessário levantar e entender diferentes percepções acerca dos problemas e do meio ambiente, e considerar as representações sociais do grupo ou da sociedade, levando em conta todas as visões e opiniões, ainda que pareçam equivocadas ou divergentes. Além disto, tal proposta deve considerar as questões dos processos sociais, a história, o contexto geográfico, econômico, político, as classes sociais e as diferentes culturas (RUSCHEINSKY, 2012). Somente assim serão estabelecidos os subsídios para que os atores envolvidos se situem como cidadãos integrantes do grupo social. Imprescindível se faz também que a pesquisa em Educação Ambiental Crítica e a equipe que lide com o tema sejam interdisciplinares, ou seja, compostas por membros de diferentes áreas do saber.
A ação coletiva, incluindo os atores sociais e as instituições envolvidas, deve estimular que a educação ambiental seja realizada tanto nas escolas como em outros espaços, sejam eles formais ou informais. Além disto, a Educação Ambiental Crítica estimula incluir também os excluídos dos processos de tomadas de decisão e indicar a realização de mudanças a favor dos membros e da natureza.
A Educação Ambiental Crítica deve explicitar valores e interesses ocultos de grupos e pessoas que estes adotem posições em relação aos temas. O Tratado de Educação Ambiental, resultado da Jornada Internacional de Educação Ambiental realizada na mesma época da Rio 92, estabelece dezesseis princípios que ficaram conhecidos como “Princípios da Educação Para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global”, enfatiza que a Educação Ambiental deve ajudar no desenvolvimento de consciência ética sobre todas as formas de vida que existem na Terra, devendo também ser respeitados os ciclos de vida e os limites da natureza e da vida (RIO DE JANEIRO, 1992).
De acordo com Sauvé (1999), a teoria crítica se consolidou nas décadas de 1980 e 1990 sob a luz do pensamento pós-moderno, passando a enfatizar o envolvimento comunitário e as ações locais, o diálogo entre os diferentes saberes, os aspectos sociais e culturais, bem como a possibilidade de transformação da realidade. A Educação Ambiental Crítica, ao incentivar a participação das pessoas nas discussões, pode envolver temas como ciência, tecnologia, conservação da biodiversidade, sociedade e, mais que isto, pode levar o cidadão a se posicionar de maneira crítica nas relações de produção e consumo, levando-o a reivindicar serviços de saúde dignos, moradias adequadas, saneamento básico, despoluição dos rios, e fazer com que alguns produtos que não sejam social e ambientalmente responsáveis sejam inclusive boicotados. Ou ainda, que o cidadão fotografe e crie documentos capazes de denunciar situações irregulares. Por meio da vertente crítica em Educação Ambiental vislumbra-se uma maneira eficaz de incentivar a formação do cidadão, capacitando-o a refletir sobre seu mundo e a modificá-lo.
Segundo Freire (1996), a prática docente crítica envolve movimento dinâmico e dialético entre o fazer e o pensar sobre o fazer. A práxis é a reflexão-ação e ocorre simultaneamente. A ação de educar é política, ou seja, a Educação Ambiental não deve se abster de posicionar-se diante das questões e dos problemas sociais e ambientais; estas por sua vez, tem raiz no sistema capitalista (FREIRE, 1996).
Loureiro (2004) propõe que a Educação Ambiental Crítica possibilite realizar questionamentos às abordagens comportamentalistas, dualistas e reducionistas no entendimento da relação cultura-natureza, enfatizando que esta vertente da Educação Ambiental é um meio para que seja modificada a crise socioambiental. A educação emancipatória exige que os conhecimentos sejam construídos de forma coletiva e cooperativa, dialógicos, contínua e dinâmica rumo à construção das sociedades mais sustentáveis.
Para Freire (1996), educar é um ato de conhecimento da realidade concreta e que refletir, compreender, criticar e atuar constituem ações pedagógicas desejáveis. Quando a aprendizagem acontece de maneira dialógica e participativa possibilita mudanças significativas nas relações sociais capazes de influenciar fortemente na conservação e preservação do meio ambiente, da natureza ou do local onde são realizadas atividades humanas, como por exemplo, o ecoturismo, os órgãos que compõem os Sistemas Municipais de Meio Ambiente e as salas de aula. A educação que coloca como foco o lugar, independentemente da escala, é capaz de propiciar experiência significativa e promover a consciência ecológica.

DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O Parque Natural Municipal da Gruta está localizado em Americana, estado de São Paulo. Também conhecido como “Gruta Dainese” ou “Gruta de São Roque”, constitui-se numa unidade de conservação de responsabilidade municipal, representando atualmente, entretanto, um evidente exemplo da ausência de gerenciamento e mau uso por parte da população local.
Em 2005, por meio do Decreto Legislativo n.º 275, foi instituída uma comissão especial de estudos com vistas à preservação do Parque. Dentro de suas atribuições, a comissão elaborou o Projeto de Lei nº 059/2005 que previa a constituição de uma comissão consultiva pelo Poder Executivo para elaboração de um Plano Diretor para recuperação da Gruta Dainese.
Tal projeto de lei foi aprovado pela Câmara, sancionado e promulgado pelo prefeito à época e transformado na Lei 4.195/2005. O Plano Diretor considera a complexidade técnica, financeira e administrativa para o gerenciamento da área do Parque e propõe a adoção de medidas estruturais e não estruturais objetivando a recuperação da vegetação e fauna características do bioma Mata Atlântica, a realização de estudos e pesquisas e o desenvolvimento de Educação Ambiental e Ecoturismo com vistas ao lazer e interpretação ecológica.
Diante das medidas apontadas pela comissão, em 2006 a área é reconhecida como uma unidade de conservação pelo Decreto 6.980, posteriormente alterado pelo Decreto 7.003. Assim, é nomeado como “Parque Natural Municipal da Gruta”. De acordo com Gotardi (2009), a área do Parque é de 490.925 m². O Plano Diretor do Parque Natural Municipal da Gruta é dividido em duas partes: a do Parque propriamente dito e a da área de lazer do entorno onde está envolvido seu ecossistema.
É uma unidade de conservação de proteção integral com beleza cênica peculiar, dada sua topografia formada por diversas fendas, estratificação de arenitos e uma pequena gruta. Maior parque urbano de Americana, possui também setes quedas d’água, nascentes e remanescentes de mata atlântica e de cerrado. No entanto, mesmo diante de sua relevância para preservação ambiental e histórica percebe-se que as políticas públicas existentes não têm se efetivado na prática (ORTOLANO; SILVA NETTO, 2016).
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), criado pela Lei 9.985/2000, prevê no artigo 2º, inciso I, que as unidades de conservação devem ter seus objetivos de conservação e limites definidos sob regime especial de administração, com garantias adequadas de proteção.
Balan (2015) aponta a relevância histórica do Parque Natural Municipal da Gruta como atrativo turístico e espaço de lazer, bem como espaço para recarga do manancial hídrico, auxiliando no controle de enchentes e qualidade do ar na região. Aponta que não existe gerenciamento por parte do Poder Público e são observados o despejo de esgotos sem tratamento, ocupações irregulares, descuido e depredação por parte dos moradores do entorno (BALAN, 2015).
Os atuais usos do Parque retratam uma relação conflituosa entre sociedade e meio ambiente. Com efeito, observa-se um descaso com relação à área da gruta e, assim, um problema de saúde pública, haja vista a reprodução de escorpiões venenosos, Aedes aegypti e roedores, assim como a proximidade da população aos locais sem saneamento básico. Nesse sentido, há um desafio emergente para Americana que apresenta grave indicador de saneamento básico. Atualmente, a cidade faz o tratamento de apenas 42% do seu esgoto (JORNAL O LIBERAL, 2016).
O desenvolvimento local inclui a gestão dos recursos naturais e a adequada administração das produções humanas, compreendendo uma relação simbiótica entre a conjuntura social e o meio ambiente e suas transformações.
Diante do exposto, cabe mencionar que entre as propostas sugeridas pelo Grupo de Trabalho de Meio Ambiente durante o Fórum de Turismo e Desenvolvimento Local, ocorrido em novembro de 2015 na Câmara dos Vereadores de Americana, destacam-se a realização de Educação Ambiental em áreas degradadas.

METODOLOGIA

Na presente pesquisa adota-se o estudo de caso histórico-organizacional e observacional como metodologia. O estudo de caso é recomendado para pesquisas intensivas do passado, do presente e das interações ambientais socioeconômicas, geográficas, políticas e culturais de determinada unidade, indivíduo, grupo, instituição ou comunidade escolhida por sua especificidade (GRESSLER, 2003).
É caracterizada como uma pesquisa profunda que engloba a totalidade dos ciclos de vida do objeto estudado e constitui-se, desta maneira, num estudo interdisciplinar com visão holística. Ou seja, nesta forma de investigação o caso não é fragmentado ou isolado em partes, pois todos os elementos estão inter-relacionados (GRESSLER, 2003).
Baseia-se numa variedade de fontes de informação e procura incorporar os diferentes pontos de vista presentes na situação. De acordo com Kohn (1997), o estudo de caso como metodologia de pesquisa qualitativa surgiu da necessidade de se conseguir modalidades mais adequadas para investigações nas ciências sociais e humanas.
Para Stake (2000 apud GRESSLER, 2003), os estudos de caso não são novos nem essencialmente qualitativos. Antes de se constituir numa escolha metodológica é uma escolha do que deve ser pesquisado. O estudo de caso pode ser qualitativo ou quantitativo, ou ainda, pode ser a combinação de ambos.
Independentemente do que se pretende adotar como paradigma, o estudo de caso pode ser visto como uma importante tentativa de manter unidas num sistema integrado as características importantes para a questão que vem sendo estudada (GRESSLER, 2003).
Frequentemente o estudo de caso é utilizado em pesquisas sobre novas áreas e assuntos sobre os quais ainda não existe teoria disponível, bem como para descrever processos ou efeitos de um determinado evento ou de uma intervenção para explicar um fenômeno complexo. Pode ainda ser utilizado para testar hipóteses que exijam novos instrumentos de pesquisa.
No que se refere ao objeto da pesquisa, o estudo descritivo se ocupa de grande número de elementos e estuda um número reduzido de variáveis, enquanto o estudo de caso restringe o número de elementos em investigação e se aprofunda no número de variáveis. A vantagem do estudo de caso como recurso metodológico é a elevação da validade interna, dado o grande número de variáveis e a profundidade de suas análises (GRESSLER, 2003).
Devido à restrição da amostra, o estudo de caso se torna um estudo limitado quanto à representatividade e consequentemente quanto à extrapolação dos resultados. Apresenta grande dependência da capacidade, sensibilidade e preparo do pesquisador e se destaca por sua flexibilidade e possibilidade de novas descobertas durante a pesquisa.
De acordo com Bodgan (apud TRIVIÑOS, 1987), há diversos tipos de estudos de caso, a saber:


  • Estudo de caso histórico-organizacional – Onde o interesse na pesquisa se volta, por exemplo, para a trajetória de uma instituição, clube, empresa etc. O investigador pode utilizar como fontes de pesquisa os materiais disponíveis como: atas de reuniões, publicações, livro de registro de funcionários dentre outros.
  • Estudo de caso observacional - Os dados são coletados basicamente por meio de observações participantes. Tem como foco de estudo a unidade dentro da organização. Por exemplo: uma reunião do Comitê de Bacia Hidrográfica, uma aula de metodologia científica, um encontro com representantes do Poder Público, da sociedade civil organizada etc.
  • Estudo de caso denominado história de vida – Este tipo de estudo é utilizado para estudar pessoas com peculiaridades positivas ou negativas, como por exemplo, deficiência mental, genialidade, habilidades artísticas, dentre outros. Nesta modalidade toma-se como base, geralmente, o uso de entrevistas abertas e/ou semi-estruturadas, em que as questões são aprofundadas durante o processo de entrevista.
  • Estudo de caso – análise situacional – Nesta modalidade o estudo é focado em eventos específicos como, por exemplo, uma passeata pública em defesa da paz, protestos por aumentos de salários etc. Neste tipo de pesquisa o pesquisador busca conhecer as circunstâncias e os pontos de vista dos envolvidos.

São utilizados os seguintes procedimentos para o estudo de caso, de acordo com recomendações de Gil (1996) e Gressler (2003):


  • Identificação de pontos críticos;
  • Delimitação do estudo: caracterização do objeto estudado, levantamento de relações externas e internas, políticas e demais atividades ligadas à temática do projeto;
  • Estabelecimento do objetivo e/ou caracterização do problema;
  • Verificação dos dados disponíveis, definição dos processos e instrumentos que serão usados na coleta de dados;
  • Coleta de dados, levantamento dos indicadores ligados à prática de Educação Ambiental em relatórios e demais documentos existentes nos municípios, como as atas das reuniões do Conselho Municipal de Meio Ambiente;
  • Organização das informações, analisando-as conjuntamente com especialistas, para a formação coerente e integrada da unidade em estudo;
  • Relato dos resultados e discussão conjunta de sua significância com grupos de trabalho.

Os procedimentos e instrumentos a serem usados na pesquisa englobam o levantamento bibliográfico em livros, periódicos, teses e dissertações; reuniões e entrevistas sobre as práticas sociais e ambientais ligadas à Educação Ambiental emancipatória com coordenadores pedagógicos do município; levantamento documental (políticas, planos e programas); reuniões com gestores e agentes ambientais, reuniões com Organizações Não Governamentais, englobando também possíveis turistas e abordando o cerrado, a mata atlântica, os recursos hídricos e o turismo na natureza, haja vista que o município de Americana possui importantes unidades de conservação que necessitam de melhor gerenciamento. Envolvem o contato com os membros do COMDEMA (Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente) de Americana e com diretores e professores das escolas dos ensinos fundamental e médio, bem como a sistematização das informações em banco de dados.
Será solicitada permissão para gravar as entrevistas e estas serão transcritas, comparadas com o marco teórico e conceitual levantado na pesquisa, bem como com a legislação que trata da Educação Ambiental e conservação da natureza em outras esferas públicas (nacional e estadual), analisadas de acordo com as seguintes categorias de análise:


  • Participação da sociedade nos processos decisórios;
  • Uso de instrumentos, indicadores ambientais e de sustentabilidade na gestão ambiental do município;
  • Interação do órgão ambiental com outros órgãos do município e com órgãos ambientais do Estado e da União;
  • Compatibilidade entre a teoria e leis existentes e a prática.

Os indicadores levantados serão analisados, sistematizados e apresentados em eventos científicos locais, regionais, nacionais e internacionais, cujos objetivos sejam estimular a discussão e a formação de opinião sobre a práxis da Educação Ambiental, sobre o tema desenvolvimento sustentável, bem como o papel do Município e sua relação no que se refere à responsabilidade pelas questões socioambientais.

VIABILIDADE DE EXECUÇÃO

Para a execução desta pesquisa são necessários o acesso às bibliotecas públicas, bem como aos bancos de dados e periódicos sobre o tema disponibilizados via Internet pelo governo municipal, estadual e federal.
Vem sendo realizadas diversas visitas técnicas ao Parque Natural Municipal da Gruta e demais Unidades de Conservação de Americana para a realização de inventário fotográfico.

EQUIPE DE PESQUISADORES

Fábio Ortolano.
Joviniano Netto.

REFERÊNCIAS

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Foto-mosaico: Joviniano Pereira da Silva Netto (2016)