quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Izrael Szajnbrum

Artista judeu polonês radicado no Brasil. Estudou na Escola Técnica Profissional Souza Aguiar, especializando-se em entalhações e na Escola Nacional de Belas Artes, tendo como professores Rodolpho Chambeland, Henrique Cavaleiro, Quirino Campofiorito e outros. Formou-se em Arquitetura pela Faculdade Nacional de Arquitetura e teve aulas de gravura com Carlos Oswald no Liceu de Artes e Ofícios. Empreendeu viagens pelo interior do Brasil, passando por Paraty, Ouro Preto, Congonhas, Salvador, dentre outras cidades, desenvolvendo importantes pinturas, muitas feitas ao ar livre.

Participou da Primeira Bienal de Arte de São Paulo expondo sua obra intitulada “O Mercado”. A exposição contou com a participação de artistas do quilate de Cândido PortinariAlfredo Volpi, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, José Pancetti, Iberê Camargo, Aldo Bonadei, Antônio BandeiraVictor Brecheret, Edi Cavalcanti, Lasar Segall, Bruno Giorgi, Oswaldo Goeldi e outros tantos importantes nomes da história da arte brasileira.

Izrael Szajnbrum dedicou-se exclusivamente à pintura, desenho, gravura e escultura. Algumas de suas obras encontram-se na Pinacoteca do Estado de São Paulo, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, no Museu Adolfo Bloch, no Museu de Congonhas (MG), na Sinagoga Talmud Torá (RJ), na Biblioteca Bialik (RJ), na Escola Sholem Aleichem (RJ), no Banco de Expansão Industrial do Rio de Janeiro, e em coleções particulares no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos.
Fundada na primeira metade do século XVII, elevada à categoria de vila em 1660 e de cidade em 1844, Paraty possui um dos mais belos conjuntos arquitetônicos coloniais do Brasil. Tombada por meio dos Decretos 1450 de 18 de setembro de 1945, do governo do Estado do Rio e Janeiro e do Decreto 58077 de 24 de março de 1966, do governo federal, a cidade foi redescoberta a partir da criação da BR 101, após o ano de 1973, e desde então vem passando por diversas transformações culturais, sociais e econômicas que são, inevitavelmente, refletidas numa nova visão do conjunto colonial.
A obra de Brum é um documento vivo de como era parte da Igreja Santa Rita, onde também funciona o Museu de Arte Sacra de Paraty, e da rua Santa Rita em 1974, ano em que realizou a pintura que ilustra este texto. Nesta década foi construída a estrada que circunda a cidade próxima ao mar, sendo realizados também alguns aterros no centro histórico que, infelizmente, modificaram o hábito de entrar na cidade com pequenas canoas pelas ruas nas marés cheias. Mesmo assim, Paraty ostenta um dos mais significativos conjuntos da arquitetura do período colonial do Brasil.


 Izrael Szajnbrum, 1974. Óleo sobre tela. 65 x 45 cm. 
Coleção particular. São Paulo, Brasil.
Foto: Joviniano Netto.

REFERÊNCIAS

AYALA, Walmir. Dicionário de Pintores Brasileiros. Edição revisada e ampliada por André Seffrin. Curitiba, Ed. da UFPR.

BRASIL. Decreto 58077 de 24 de março de 1966.

Catálogo da I Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo.

Enciclopédia Itaú Cultural: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa23388/izrael-szajnbrum

PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Apresentação de Antônio Houaiss. Textos de Mário Barata et al. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

RIO DE JANEIRO. Decreto 1450 de 18 de setembro de 1945.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Semana Global de Alfabetização Midiática e Informacional - Rede UNESCO-UNAOC MILID UNITWIN

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) tem desenvolvido importantes projetos, iniciativas, movimentos e esforços para melhorar a vida das pessoas e favorecer um mundo melhor. O tema “Alfabetização Midiática e Informacional: novos paradigmas para o diálogo intercultural” é atual e extremamente necessário. Sendo um evento global realizado aqui na Universidade de São Paulo nesta semana, me inscrevi para participar da VI Conferência da Rede UNESCO-UNAOC MILID UNITWIN e teço abaixo algumas opiniões ligadas ao tema de maneira direta ou indiretamente. A USP é uma das universidades-membros que compõem a rede internacional de universidades MILID, cujas pesquisas feitas em parcerias buscam capacitar as pessoas no campo da alfabetização midiática e informacional e reforçar sua participação por meio de sistemas livres e independentes.
Entender a alfabetização como o domínio formal da tecnologia, da mídia e da informação em sua forma primária, tem sido fundamental para a cultura na complexa conjuntura que diz respeito não apenas às fronteiras entre natureza e sociedade, mas também à emancipação do sujeito. A relação da humanidade com a tecnologia sempre foi, ainda que em proporções desiguais, desde os tempos imemoriais, simbiótica. Ao serem moldadas as técnicas e ferramentas, como num eco, somos também moldados; e isto é refletido no nosso dia-a-dia.
Aparelhos eletrônicos digitais parecem constituir parte de nossas redes neurais e sentidos. Há quem não consiga ficar sem um celular, sem acesso à internet e mesmo sem uma televisão ou rádio. Uma avalanche de informações é a cada minuto lançada no universo midiático e informacional e precisamos lidar com isso, pois pode ser desgastante, ainda mais em momentos de trabalho e lazer, se deparar com dados inesperados e desagradáveis.
Todavia, como usar a informação que nos chega para, na prática, transformar nossas vidas? O que aproveitar? Empoderar-se e empoderar pessoas por meio da alfabetização midiática e informacional é um desafio, mas o primeiro grande obstáculo para isto é que não é tarefa fácil, num país subdesenvolvido, suprir a necessidade de aparelhos digitais, ainda caros e inacessíveis para a maior parte da população. Muita gente no Brasil sequer sabe ler e escrever. Lembro-me bem que, apesar disto, quando atuei num projeto de capacitação para alfabetizadores no interior da Bahia em 1999, meus alunos da terceira idade e tutores do curso realizado na Universidade do Estado da Bahia, já se mostravam interessados pela globalização da informação e pela até então utópica possibilidade de acesso ao mundo virtual da comunicação, que na época era apenas anunciada na TV. A utopia virou realidade e a geografia da internet no Brasil se ampliou vertiginosamente. Os pilares e as dinâmicas desse fenômeno foram discutidos noutra ocasião, em curso promovido pela Associação dos Geógrafos Brasileiros em 2004 durante um Congresso Brasileiro de Geógrafos, em Goiânia. O acesso à tecnologia, à informação e aos dados disponíveis na rede cresce em todos os cantos do mundo. À última geração pode parecer que toda essa tecnologia é antiga e há muito faz parte de nossa sociedade. Nascemos com a necessidade de comunicação e nossos perfis na internet são quase como registros de nascimento.
A Conferência que começa hoje e a primeira Assembleia Geral da GAPMIL, com a aguardada Declaração de São Paulo sobre Alfabetização Midiática e Informacional, poderão nos auxiliar na elaboração de projetos mais ousados, sem dúvida. A partir de uma declaração e dos resultados de eventos como estes, analisados à luz das propostas e dos avanços das outras edições passadas, ter-se-á um norte a seguir na proposição de ideias e políticas públicas inclusivas no campo da mídia e da informação.
O que Fez, Barcelona, Cairo, Pequim, Filadélfia e São Paulo tem em comum além de serem grandes cidades inseridas no turismo internacional? - Elas sediaram, desde 2011, edições desse importante evento criado pela UNESCO. Pesquisei e encontrei iniciativas em alfabetização midiática e informacional nos países onde se localizam essas cidades. São vários os exemplos de esforços observados aqui na Universidade e em outros lugares do Brasil.
Uma das propostas de projeto voluntário de educação ambiental crítica que iniciamos há alguns meses na cidade de Americana, interior do estado de São Paulo, em consonância com as declarações das conferências passadas, aponta para a necessidade das pessoas exercitarem a criatividade e usar as redes complexas de maneira crítica, de modo a, junto ao Poder Público e outras entidades, contribuir para a melhoria da qualidade do lugar, uma unidade de conservação de proteção integral que se configura em diversos aspectos como área de conflito. Fotografar, filmar, gravar depoimentos e compartilhar isso em canais importantes de comunicação é uma forma de pressionar as autoridades a cumprirem os princípios de desenvolvimento sustentável; além de chamar a atenção para a comunidade local, que é estimulada a criar mídias e obras para serem expostas em dois momentos do projeto. A ação faz parte de um processo de empoderamento.
Outra experiência que está ligada à alfabetização midiática e informacional e ao empoderamento dela decorrente é a dos tibetanos. Estes têm usado a internet para mostrar sua cultura milenar e, lamentavelmente, as atrocidades cometidas pelas autoridades policiais chinesas em sua nação. Destruição de templos religiosos, torturas, perseguições e assassinatos são amplamente fotografados, filmados e transformados em mídia instantânea para todo o mundo. Informações são compartilhadas por sites importantes e pela sociedade civil organizada. Se como indivíduos, pouco podemos daqui fazer, além de rezar pela paz, efetuar doações monetárias e assinar petições públicas, pode-se ampliar a informação, fazê-la chegar aos que transitam pelo espaço cibernético em todo o mundo e formar opiniões. A história de muitos países foi escrita por uma elite minoritária e, entretanto, com o advento e desenvolvimento da tecnologia da informação no atual estágio, qualquer pessoa pode ser autora da própria vida e (re)escrever a história do lugar onde vive.
Quando nos dispomos a estabelecer redes virtuais, não apenas adicionando, aceitando contatos ou compartilhando conteúdos sobre diversos assuntos nos mais distintos canais da internet, estamos nos abrindo para um mundo ainda desconhecido e recente. Passamos a compartilhar desejos, gostos, visões, opiniões e, desta forma, a propor uma outra narrativa, um outro paradigma. Passamos e mostrar alguns modos de vida e a tomar conhecimento de outros. Esse diálogo intercultural é rico e desejável em todo o planeta. Vivemos em redes físicas e digitais onde o que mais se quer é a interação.
O acesso à informação tem sido cada vez mais democrático, mas ainda está longe de alcançar patamares ideais. Se buscarmos informações ou mídias sobre determinado assunto, a depender do canal de busca, normalmente pesquisamos por palavras-chave no idioma de interesse. O resultado de busca no Google, citando um dos mais importantes canais de pesquisa do mundo, é um leque indescritível de informações, culturais, artísticas, científicas ou de qualquer outra natureza. Eis a questão: o que fazer com isso e como empreender?
Com acesso à internet dá para explorar infinitas possibilidades de formação de redes. Por meio da análise de gráficos de acesso a este blog, por exemplo, é possível verificar qual aparelho foi usado para acessá-lo e qual a localidade. À distância do espectador e pela internet é possível apresentar parte do cotidiano e da vida, ensinar, aprender, conhecer experiências e se inspirar. Por meio do acesso às redes e às pessoas a elas conectadas pode-se envolver em diversas questões específicas ou gerais, trocar ideias, militar por uma causa e ampliar o campo de visão na vida prática.
É possível realizar cursos, superiores inclusive, à distância do espaço físico da escola com acesso à internet. Alguns são gratuitos e para isto basta um aparelho que possibilite fazê-lo. Obviamente que nada se compara ao encontro real, mas na impossibilidade, a importância da rede virtual é, por si só, muito grande e indiscutível. A complexidade dos fenômenos requer que não seja excluída a complementaridade entre os fatores.
O mundo está se tornando digital. O analógico está virando coisa de museu, de entusiasta, de artista, de colecionador. Hoje em dia criamos a arte, a fotografia, o livro virtual, a postagem, o videogame. Levantamos, elaboramos a informação e a transformamos em arquivos (relatórios, álbuns, ensaios, multimídias etc.). Quando disponíveis on-line, a depender das categorias de linguagem e dos tipos de suporte, podem ser estabelecidas comunicações efetivas entre o “criador do produto” e o “consumidor” em qualquer lugar da Terra. A arte digital e seus processos de restauração exigem, por seu turno, muito mais do que a alfabetização.
Surge então a necessidade do monitoramento e aperfeiçoamento contínuos. A julgar pelos temas que serão tratados, evidencia-se ainda mais a importância de uma conferência como esta que acontece aqui na USP e que tem como ponto de partida o primeiro contato com o universo midiático e informacional, a chamada “alfabetização”.
Matematicamente, a rápida dinâmica das linguagens digitais requer conhecimentos técnicos, conceituais e específicos, que transformem o obsoleto no novo com base em programações algorítmicas mais inteligentes capazes de recriar as bases de dados e de serem analisadas por diferentes ângulos. Apenas para ilustrar, o mercado de videogames é um dos que mais faturam no mundo. Os aplicativos interessantes e acessíveis ao público também se constituem num excelente filão do mercado na atualidade. Já chegamos a imaginar para diversos lugares, sempre incluindo como produto de projetos “acadêmico-científicos”, formais ou voluntários, o quão eficiente seria a criação de um game ou aplicativo que mostre a história e curiosidades animadoras capazes de amalgamar o usuário da mídia com o lugar representado. Uma cidade histórica, um parque natural, um ambiente cultural.
Como superar um paradigma e avançar? Somos referência em tecnologias da informação e brasileiros são criativos no que fazem, mas quase sempre nos esbarramos na falta de recursos humanos e financeiros para a realização de projetos. Diálogo é uma maneira de ação e nosso papel como educador é, em todo caso, o de propositor, ainda que não levemos as ideias até o fim.