segunda-feira, 23 de junho de 2025

Quando um doutorado se perde na fumaça do cigarro

Eu estava recentemente na metade do curso de doutorado em Geografia do campus de Rio Claro, na fase de escrita da tese após cumprir todos os créditos em disciplinas e atividades obrigatórias com notas máximas, devido à uma bolsa de estudos que recebi, por demanda social, da Capes, no valor de R$ 3.100. Ocorre que depois da primeira reunião que tive com o prof. Paulo Godoy, orientador do projeto que foi aprovado na seleção em primeiro lugar na classificação geral, ele ao se despedir me disse que jamais iria cobrar nada. Em dois anos de curso ele não teve a iniciativa de marcar reuniões para dar um retorno tanto sobre o projeto como sobre os textos que redigi e, considerando também o fato de ele ter comentado na sala de aula na graduação, onde fiz estágio de aperfeiçoamento em História do Pensamento Geográfico, que para me orientar ou orientar outros pós-graduandos no doutorado ele não recebia pagamento nenhum.

Na reunião a primeira coisa que ele me perguntou foi se eu queria fumar um cigarro. E eu disse sim, óbvio, chegando a fumar 3 cigarros em quase uma hora de conversa em sua sala. 

O tempo passou, não tive a iniciativa de ensinar como se orienta um doutorado, tendo como referência minha vivência como co-orientador de duas teses de doutorado na Universidade de São Paulo, uma das quais vencedora do concurso de teses do Ministério do Turismo e da Fundação Getúlio Vargas, como pode ser constatado nos parágrafos de agradecimentos a mim. Basta entrar no banco de teses da USP para acessar os trabalhos. 

Eu morava na república Vila Lobo, que fica a 3 minutos da UNESP, e ia quase todos os dias vivenciar a universidade e estudar na biblioteca. Por um bom tempo eu deixava de fazer comida em casa para almoçar no restaurante universitário. 

Precisei viajar a Tanhaçu (Bahia) e já com passagem comprada para Rio Claro recebi um e-mail marcando reunião em cima da hora para tratar da qualificação do projeto. Antes da defesa a gente passa por um processo de aperfeiçoamento do projeto numa espécie de pré-defesa, onde o objetivo maior é ter a contribuição da banca e do orientador. Pelo cronograma ainda faltava um ano para isto acontecer. Quando abri o e-mail e respondi que não seria possível eu estar lá na data marcada devido a minha viagem ser longa, o professor respondeu que eu tinha, dentre outras opções, a possibilidade de trancar o curso, mudar de orientação e me desligar do programa. Eu entrei em contato com a secretaria do programa e fiquei sabendo que ele já havia solicitado o cancelamento da orientação e que eu teria 1 mês para encontrar outro orientador. Imediatamente eu enviei e-mail com o projeto para alguns professores da minha linha de pesquisa e uma professora chamada Silvia Ortigoza incialmente aceitou me orientar, mas faltando poucos dias para vencer o prazo ela simplesmente enviou outro e-mail dizendo que houve um imprevisto e que ela estava indo morar na Itália, e que eu tivesse sorte na busca de outro orientador e na finalização da pesquisa. Tive uma reunião on-line por fim com o professor Roberto Braga e este em vez de apontar soluções para o projeto disse que estava “capenga”, e que não iria orientar. 

Eu tenho considerações a fazer sobre o curso de doutorado em Geografia da UNESP Rio Claro com base na orientação e no que observei por lá. O projeto ficou também em primeiro lugar na seleção de outro doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina e recebi elogios até de professores de universidades internacionais quando busquei criar rede de contatos com pesquisadores de patrimônio mundial. Capenga é a UNESP de Rio Claro e os professores que tive, sobretudo na orientação, porque não deram conta de mudar uma linha do que escrevi nem de mostrar-se capaz de se adaptar aos métodos de trabalho. Eu sou cria da USP e morei lá dentro, no Conjunto Residencial, por 5 anos, chegando a perguntar a mim mesmo quando cheguei ao departamento pela primeira vez, “o que estou fazendo aqui”. Achei a UNESP pobre tendo como referência a USP. Sofri assédio moral lá dentro como já publiquei aqui neste blog, e apesar da densidade das publicações dos pesquisadores, com currículos enormes lotados de publicações científicas, capenga também foram as relações humanas. Eu sou discípulo de Eduardo Abdo Yázigi e Francisco Capuano Scarlato, e após tentar apontar os caminhos para a realização de um trabalho de Geografia muito simples, respondendo aos e-mails do ex-orientador e pedindo que ele fizesse seu trabalho sem que fosse uma obrigação, já que não recebia nada, digo em alto e bom som quem quem perdeu foi o programa, e que para mim foi um livramento sair de perto de um fumante inveterado que faz piada sem graça com colegas de profissão achando que eu os conheço. A UNESP para mim foi de uma pobreza sem tamanho. Falta comida no restaurante e é uma luta para os alunos permanecerem na Universidade que, não sendo instituição de caridade, deveria pelo menos se dispor a pegar na mão de quem não sabe escrever e ensinar, ou também, dar comida. Eu me contento com a carta de desligamento por não ter indicado orientação, mas sobretudo porque não encontrarei aquela gente nunca mais na vida. O professor Paulo, usando de seu livre-arbítrio, pediu que não fosse mais meu orientador e sequer me disse o motivo nos e-mails que perguntei, achando que tenho bola de cristal para adivinhar o que ele pretendia sendo colaborador na pesquisa. Não foi capaz de incluir, e desconfio que tenha sido por causa do meu hábito de não ficar apresentando os resultados fora do último dia de prazo e de não puxar saco para aumentar o ego. Não tenho nenhum interesse em permanecer na UNESP de Rio Claro como estudante ou pesquisador porque embora tenha feito parte de minha vida por 2 anos, achei sem vida, sem emoção e sem humanismo com a atitude dos orientadores de tal doutorado. Lamentei apenas por perder minha fonte de renda que estava programada até 2027, mas de minha parte não resta nenhuma frustração acadêmica e não me sinto inferior a nenhuma pessoa tomando como base os projetos que apresento e sobretudo os resultados. Se comportam desta forma porque são infelizes e porque, não sabendo controlar o andamento dos trabalhos com afinco, descartam as pessoas como se fossem computadores velhos que não atendem mais às necessidades da vida. Detestei a orientação e mais ainda o ser humano, desejando que essa espécie de câncer social não se repita com nenhum outro aluno da Universidade, pois sem público não há aplausos e por fim, a produção acadêmica não reverbera como se deseja um pesquisador de verdade, deixando a emoção da literatura e dos trabalhos que pretendem elucidar um tema de pesquisa complexo (não complicado), feitos no intuito de valorizar a Geografia, ciência capaz de nos ensinar a andar de cabeça erguida nos palcos da vida. Porque a Universidade não é feita só de prédios e deveria ser templo de um ou vários saberes capazes de, não podendo mudar, sensibilizar para a mudança e para a melhoria. Eu estudo por prazer. Não pretendo trabalhar para sobreviver nem para mudar comportamento de ninguém, mas queira ou não, e os invejosos vão achar que foi bem feito o que aconteceu comigo, eles sairão de cena quando o novo se impor. Estude. Produza algo que vá fazer você se orgulhar quando lembrar que seu conhecimento não apenas mudou a vida ruim de alguém como também permanecerá até comunicar o que você pretende com tais ferramentas. Uma tese e um curso de doutorado para mim são apenas mais uma ferramenta para eu me beneficiar do conhecimento. Isto porque na Geografia da Vida apreendi que gente ruim e sem predisposição para a verdadeira mudança existe em quase todos os lugares. Enfie a orientação naquele lugar e depois me diga se sentiu algum prazer. Se sentiu algum prazer em não orientar como se habilitou no início, saiba que meu prazer agora é ser livre e pleno com a experiência que tive.