Na reunião a primeira coisa que ele me perguntou foi se eu queria fumar um cigarro. E eu disse sim, óbvio, chegando a fumar 3 cigarros em quase uma hora de conversa em sua sala.
O tempo passou, não tive a iniciativa de ensinar como se orienta um doutorado, tendo como referência minha vivência como co-orientador de duas teses de doutorado na Universidade de São Paulo, uma das quais vencedora do concurso de teses do Ministério do Turismo e da Fundação Getúlio Vargas, como pode ser constatado nos parágrafos de agradecimentos a mim. Basta entrar no banco de teses da USP para acessar os trabalhos.
Eu morava na república Vila Lobo, que fica a 3 minutos da UNESP, e ia quase todos os dias vivenciar a universidade e estudar na biblioteca. Por um bom tempo eu deixava de fazer comida em casa para almoçar no restaurante universitário.
Precisei viajar a Tanhaçu (Bahia) e já com passagem comprada para Rio Claro recebi um e-mail marcando reunião em cima da hora para tratar da qualificação do projeto. Antes da defesa a gente passa por um processo de aperfeiçoamento do projeto numa espécie de pré-defesa, onde o objetivo maior é ter a contribuição da banca e do orientador. Pelo cronograma ainda faltava um ano para isto acontecer. Quando abri o e-mail e respondi que não seria possível eu estar lá na data marcada devido a minha viagem ser longa, o professor respondeu que eu tinha, dentre outras opções, a possibilidade de trancar o curso, mudar de orientação e me desligar do programa. Eu entrei em contato com a secretaria do programa e fiquei sabendo que ele já havia solicitado o cancelamento da orientação e que eu teria 1 mês para encontrar outro orientador. Imediatamente eu enviei e-mail com o projeto para alguns professores da minha linha de pesquisa e uma professora chamada Silvia Ortigoza incialmente aceitou me orientar, mas faltando poucos dias para vencer o prazo ela simplesmente enviou outro e-mail dizendo que houve um imprevisto e que ela estava indo morar na Itália, e que eu tivesse sorte na busca de outro orientador e na finalização da pesquisa. Tive uma reunião on-line por fim com o professor Roberto Braga e este em vez de apontar soluções para o projeto disse que estava “capenga”, e que não iria orientar.
Eu tenho considerações a fazer sobre o curso de doutorado em Geografia da UNESP Rio Claro com base na orientação e no que observei por lá. O projeto ficou também em primeiro lugar na seleção de outro doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina e recebi elogios até de professores de universidades internacionais quando busquei criar rede de contatos com pesquisadores de patrimônio mundial. Capenga é a UNESP de Rio Claro e os professores que tive, sobretudo na orientação, porque não deram conta de mudar uma linha do que escrevi nem de mostrar-se capaz de se adaptar aos métodos de trabalho. Eu sou cria da USP e morei lá dentro, no Conjunto Residencial, por 5 anos, chegando a perguntar a mim mesmo quando cheguei ao departamento pela primeira vez, “o que estou fazendo aqui”. Achei a UNESP pobre tendo como referência a USP. Sofri assédio moral lá dentro como já publiquei aqui neste blog, e apesar da densidade das publicações dos pesquisadores, com currículos enormes lotados de publicações científicas, capenga também foram as relações humanas. Eu sou discípulo de Eduardo Abdo Yázigi e Francisco Capuano Scarlato, e após tentar apontar os caminhos para a realização de um trabalho de Geografia muito simples, respondendo aos e-mails do ex-orientador e pedindo que ele fizesse seu trabalho sem que fosse uma obrigação, já que não recebia nada, digo em alto e bom som quem quem perdeu foi o programa, e que para mim foi um livramento sair de perto de um fumante inveterado que faz piada sem graça com colegas de profissão achando que eu os conheço. A UNESP para mim foi de uma pobreza sem tamanho. Falta comida no restaurante e é uma luta para os alunos permanecerem na Universidade que, não sendo instituição de caridade, deveria pelo menos se dispor a pegar na mão de quem não sabe escrever e ensinar, ou também, dar comida. Eu me contento com a carta de desligamento por não ter indicado orientação, mas sobretudo porque não encontrarei aquela gente nunca mais na vida. O professor Paulo, usando de seu livre-arbítrio, pediu que não fosse mais meu orientador e sequer me disse o motivo nos e-mails que perguntei, achando que tenho bola de cristal para adivinhar o que ele pretendia sendo colaborador na pesquisa. Não foi capaz de incluir, e desconfio que tenha sido por causa do meu hábito de não ficar apresentando os resultados fora do último dia de prazo e de não puxar saco para aumentar o ego. Não tenho nenhum interesse em permanecer na UNESP de Rio Claro como estudante ou pesquisador porque embora tenha feito parte de minha vida por 2 anos, achei sem vida, sem emoção e sem humanismo com a atitude dos orientadores de tal doutorado. Lamentei apenas por perder minha fonte de renda que estava programada até 2027, mas de minha parte não resta nenhuma frustração acadêmica e não me sinto inferior a nenhuma pessoa tomando como base os projetos que apresento e sobretudo os resultados. Se comportam desta forma porque são infelizes e porque, não sabendo controlar o andamento dos trabalhos com afinco, descartam as pessoas como se fossem computadores velhos que não atendem mais às necessidades da vida. Detestei a orientação e mais ainda o ser humano, desejando que essa espécie de câncer social não se repita com nenhum outro aluno da Universidade, pois sem público não há aplausos e por fim, a produção acadêmica não reverbera como se deseja um pesquisador de verdade, deixando a emoção da literatura e dos trabalhos que pretendem elucidar um tema de pesquisa complexo (não complicado), feitos no intuito de valorizar a Geografia, ciência capaz de nos ensinar a andar de cabeça erguida nos palcos da vida. Porque a Universidade não é feita só de prédios e deveria ser templo de um ou vários saberes capazes de, não podendo mudar, sensibilizar para a mudança e para a melhoria. Eu estudo por prazer. Não pretendo trabalhar para sobreviver nem para mudar comportamento de ninguém, mas queira ou não, e os invejosos vão achar que foi bem feito o que aconteceu comigo, eles sairão de cena quando o novo se impor. Estude. Produza algo que vá fazer você se orgulhar quando lembrar que seu conhecimento não apenas mudou a vida ruim de alguém como também permanecerá até comunicar o que você pretende com tais ferramentas. Uma tese e um curso de doutorado para mim são apenas mais uma ferramenta para eu me beneficiar do conhecimento. Isto porque na Geografia da Vida apreendi que gente ruim e sem predisposição para a verdadeira mudança existe em quase todos os lugares. Enfie a orientação naquele lugar e depois me diga se sentiu algum prazer. Se sentiu algum prazer em não orientar como se habilitou no início, saiba que meu prazer agora é ser livre e pleno com a experiência que tive.