Como acontecem com supostos
trabalhos de Pablo Picasso que têm aparecido
mundo adentro, há a alternativa de solicitar autenticação aos herdeiros
do pintor, exclusivamente via postal, sem precisar, no entanto, que
especialistas vejam os trabalhos in loco, fotografe-os e façam as
devidas análises químicas e espectroscópicas antes de darem o parecer.
Adquiri uma pintura sobre
papel provavelmente produzida na época em que Picasso fez muitas cerâmicas e linóleos
(década de 1950), vendida como "assinatura ilegível". Como a compra foi
feita pela Internet, e optei pela transparência, resolvi comunicar ao
vendedor que, por sua vez, esclareceu que a obra estava dentro de uma antiga revista Cruzeiro que ele havia comprado.
Dito e feito, ao abrir a correspondência com o parecer, que quase não
recebi, pois escreveram meu endereço de maneira errada, postada no
Museu do Louvre, com a opinião do Sr. Claude Picasso dizendo que a pintura e a
assinatura "não haviam
sido feitas pelas mãos de seu pai, Pablo Picasso". A atual equipe do Sr.
Claude encarregada pela confecção de certificados levou alguns meses
para responder à solicitação. E só o fez após eu publicar foto de uma colagem com a referida
obra numa rede social e "marcar" o Museu Picasso de Málaga. Antes disto, via e-mail, uma funcionária me informou que o trabalho não constava nas referências sobre o pintor e que devido a isto poderia não ser de sua autoria. Ora, identifiquei a figura retratada num dos trabalhos de Damian Elwes, pintor inglês que desenvolveu estudos e obras retratando os ateliês de Picasso. Assim, se a figura não constava nas referências, que passe então a constar. Observe a foto do trabalho de Elwes no canto inferior esquerdo e compare com a fotografia da obra abaixo. A assinatura
de Picasso é uma arte à parte!
Esperar
pela manifestação de funcionários de instituições de grande porte é algo demorado. Daí a importância
da paciência para quem é colecionador e deseja documentos relacionados à obra. Picasso é Picasso. Sabe-se que ele se irritava quando
pessoas pediam que assinasse trabalhos. Já chegou a encher um desenho de
assinaturas numa dessas ocasiões.
Não desperdiço prego na parede com obra falsa e não gosto de falsificações. Assim, a colagem com a obra, dedicada e presenteada a uma amiga, resultou numa serigrafia que guardarei como memorial de um estudo denso, divertido e cheio de descobertas sobre o pintor na época em que eu morava em São Carlos. Joan Miró dizia que "mais que a própria arte, o que conta é o
que ela faz exalar na atmosfera, o que ela propaga. Pouco importa que a
obra seja destruída. A arte pode morrer, mas o que fica é o que ela
deixou germinar sobre a terra". Cobri a assinatura com carvão vegetal e agora a obra é um trabalho de minha autoria.
Picasso foi um pintor muito diverso, com
produção vasta. Provavelmente o maior pintor do século XX. Produziu cerâmicas, colagens, fotografias, esculturas, dentre outras
técnicas. Uma de suas assinaturas legíveis circula pelas ruas do Brasil
estampada em carros. Tornou-se marca e se compararmos as assinaturas das obras de Picasso
que estão em acervos de museus, a versão legível é uma exceção.
"Picasso's Studio", Damian Elwes, 2007.
Foto: Damian Elwes.
Trabalho atribuído a Picasso. Foto: Joviniano Netto.
"Estudo sobre Pablo Picasso I".
Pastel seco, pastel oleoso, carvão vegetal, tinta de imprensa, fotografias recortadas, guache, colagem sobre papel.
Coleção Ester Stramantino.
Pastel seco, pastel oleoso, carvão vegetal, tinta de imprensa, fotografias recortadas, guache, colagem sobre papel.
Coleção Ester Stramantino.
"Estudo sobre Picasso V", 2013. Pastel, tinta de imprensa e colagem sobre papel.
Coleção particular (Brasil).
Assista ao vídeo com o trabalho em alta resolução no link abaixo:
Coleção particular (Brasil).
Assista ao vídeo com o trabalho em alta resolução no link abaixo: