RESUMO
O presente
projeto de pesquisa busca conhecer as principais patologias e causa mortis de parte da população do
município de Rolândia, PR, nas décadas de 1930 e 1940 e compará-las com as de
Londrina, PR, bem como relacionar a Geografia da Saúde com a Geografia da Alimentação
a partir dos hábitos alimentares e sua relação com as doenças que predominavam
na época. Espera-se desta forma, espacializar os dados levantados e compreender
os aspectos pertencentes à temática proposta ainda tão pouco explorada no norte
do Paraná.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA
A
distribuição espacial de eventos mórbidos relacionados a doenças endêmicas no
Brasil ainda é pouco conhecida (XIMENEZ et al., 1999). Embora atualmente tenha
crescido o número de pesquisas no campo da Geografia da Saúde que tratam da
identificação e localização dessas patologias no território brasileiro,
percebe-se que no norte-central paranaense – especialmente nos municípios de
Londrina e Rolândia – há uma enorme carência de dados sistematizados que mostrem
a espacialização dos fatores de risco a que a população dessa região se
submetia nas décadas de 1930 e 1940, época em que a ocupação e expansão da
fronteira agrícola ocorriam de maneira intensa.
Investigações
geográficas que relacionam saúde/doença/morte de populações “pioneiras” são
complexas e envolvem uma série de variáveis que devem ser consideradas na
apreensão e contextualização da realidade em que a população de determinada
área vivia (COSTA e TEIXEIRA, 1999), sendo assim, uma maneira de aproximar os
dados disponíveis aos fatos historicamente verificados. Sugerida como um ramo
da Geografia Humana, a Geografia da Saúde [antigamente conhecida como Geografia
Médica] tem-se desenvolvido de forma dinâmica, prevalecendo e se preocupando,
no entanto, com o conhecimento da distribuição e evolução de doenças sempre do
ponto de vista geográfico (LACAZ, 1972). Contudo, percebe-se que nenhuma
categoria de estudo isoladamente tem dado conta da pluralidade de fatores que
expõem a relação acima, necessitando às vezes, o uso de outros campos de
conhecimento, adotando-se eventualmente uma perspectiva interdisciplinar.
Por
meio dos antecedentes teóricos mais notáveis e das produções desenvolvidas nas
últimas décadas, a geografia da saúde tem-se, aos poucos, constituído uma
sólida base epistemológica, merecendo destaque como ponto inicial, os trabalhos
desenvolvidos por Max Sorre acerca dos conceitos de gênero de vida, ecúmeno e
complexos patogênicos, bem como as interpretações das enfermidades e mortes
que, com a aplicação dos conhecimentos geográficos, fundamentam a “geografia
das doenças” na atualidade (ROJAS, 1998). Para entender a organização do espaço
do norte do Paraná – ou de qualquer outra região – faz-se necessário conhecer a
fundo as relações sociais da população, sendo que a análise e tratamento de
dados podem permitir, mais que uma verificação de associações entre os
fenômenos identificáveis, uma melhor contextualização em que foram produzidos
os processos sócio-espaciais (SUSSER, 1994 apud BARCELLOS et al., 1998).
Através da compreensão desses processos, pode ser traçada uma aproximação entre
a Geografia da Saúde e a Geografia Alimentação, tendo como abordagem os
aspectos que envolvem a valorização da dieta alimentar tanto do ponto de vista
cultural como biológico.
À
luz das investigações realizadas por Castro (2004), buscando as causas
fundamentais da alimentação defeituosa de grande parte dos brasileiros,
constatou-se que os processos que moldam o nível alimentar de uma população vão
muito além de fatores de natureza geográfica [determinismo ambiental], devendo
sempre ser entendidas como resultado de fatores socioculturais. Sabe-se que as
condições oferecidas pela Companhia de Terras do Norte do Paraná (CTNP) e a
construção da estrada de ferro em Londrina, num primeiro momento, contribuíram
para que a região se tornasse destino de imigrantes de vários países, chegando
ao final de 1938 inclusive, a possuir proprietários oriundos de trinta e duas
nacionalidades (MELCHIOR, 2003).
Próximo
ao norte-central paranaense, Monbeig (1984) à sua época, expõe a dieta do
colono da fazenda da frente pioneira paulista, deixando evidentes as
influências dos imigrantes de origem mediterrânea, dos colonos vindos da Europa
central e dos japoneses; mostrando também, superficialmente, como esse “intercâmbio”
cultural influenciou na composição da dieta alimentar cotidiana. Sabe-se que a
ausência de infra-estruturas de saneamento básico na região de Londrina e a
alimentação precária de grande parte de sua população ofereciam condições para
o aparecimento de determinadas doenças (VILLANUEVAS, 1974). Verificar a
influência dessa população que migrou para a unidade espacial de análise do
presente projeto – Londrina e Rolândia – torna-se então um desafio a ser
superado através da pesquisa proposta.
JUSTIFICATIVA
As
referências escritas a respeito das doenças endêmicas e sua causa mortis no norte-central do Paraná,
especialmente nos municípios de Londrina e Rolândia, bem como os aspectos
culturais e biológicos da alimentação são escassas e evidenciam uma grande lacuna no que se refere ao histórico de desenvolvimento da
região. É de grande importância o levantamento de dados específicos que
mostrem como se deu a espacialização das patologias [Geografia da Saúde] e a
distribuição dos restaurantes [Geografia da Alimentação] a partir da
diversidade de paladares, levando em conta as influências das migrações; e de
que forma pode-se contextualizar a produção agrícola dos primeiros agricultores
que se estabeleceram (agricultura de subsistência) nesses municípios com as
posteriores mudanças decorrentes da cultura cafeeira instalada na região.
Com
os dados obtidos espera-se realizar a sistematização em forma de publicações
(resumos e artigos) em periódicos e/ou eventos científicos. Assim, começar-se-á
a reunião de material que pode ajudar a preencher o vazio bibliográfico
existente sobre ambas as geografias tratadas nos municípios em estudo, sem a
pretensão, no entanto, de esgotar essa temática ainda tão pouco explorada no
norte do Paraná.
OBJETIVOS
Geral
- Conhecer as
principais patologias [endêmicas ou não] e causae mortis da população no município de Rolândia, PR, nas
décadas de 1930 e 1940, comparando-as com as de Londrina, PR, bem como
relacionar a Geografia da Saúde à Geografia da Alimentação a partir dos
hábitos alimentares, e a agricultura de alimentos de subsistência,
verificando sua organização espacial.
Específicos
- Contextualizar as
condições ambientais dos municípios em estudo às situações sociais e à
época da expansão da frente pioneira;
- Conhecer a causa mortis de parte da população
que viveu no município de Rolândia nas décadas de 1930 e 1940;
- Construir um banco
de dados contendo informações sobre nome, origem, idade e causa mortis de parte da população
de Rolândia nas mencionadas décadas;
- Conhecer a evolução
dos hábitos alimentares de uma parcela da população do norte do Paraná,
especialmente sobre Londrina, associando-os aos dados obtidos sobre as
condições sanitárias e de saúde;
- Construir mapas,
tabelas e gráficos que representem a espacialização dos fenômenos
geográficos levantados; e
- Sistematizar em
forma de resumos e artigos científicos as informações obtidas.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
- Levantamento
bibliográfico (livros, jornais, revistas etc.);
- Análise e
organização das informações obtidas no livro de inumações do cemitério de
Rolândia, PR, referentes às décadas de 1930 e 1940 em banco de dados;
- Comparação dos dados
obtidos sobre Rolândia, com os dados disponíveis por pesquisas anteriores sobre
Geografia da Saúde realizadas em Londrina;
- Associação de
algumas doenças eventualmente causadas por subalimentação e/ou condições
sanitárias precárias;
- Levantamento da
diversidade e número de restaurantes existentes em Londrina na atualidade,
através do Sindicato de Estabelecimentos, Bares e Restaurantes; e
- Trabalho de gabinete
(sistematização e produção bibliográfica).
CONTRIBUIÇÕES ESPERADAS
Elaboração
de material bibliográfico.
LOCAL DE REALIZAÇÃO/ ÓRGÃOS ENVOLVIDOS
Universidade Estadual de Londrina – Centro de Ciências Exatas – Departamento de Geociências e Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (BÁSICA OU PRELIMINAR)
BARCELLOS, Christovam;
COUTINHO, K.; PINA, M. de Fátima; MAGALHÃES, M. M. A. F.; PAOLA, J. C. M. D.;
SANTOS, S. M. Inter-relacionamento de
dados ambientais e de saúde: análise de risco à saúde aplicada ao abastecimento
de água no Rio de Janeiro utilizando Sistemas de Informações Geográficas. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, n.
14(3), p. 597-605, jul-set, 1998.
CASTRO, Josué de. Geografia
da Fome: o dilema brasileiro: pão ou aço. 4ª edição. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2004. 318p.
COSTA, Maria da
Conceição Nascimento.; TEIXEIRA, Maria da Glória Lima Cruz. A concepção de “espaço” na investigação
epidemiológica. Cad. Saúde Pública,
Rio de Janeiro, n. 15(2), p. 271-279, abr-jun, 1999.
LACAZ, Carlos da
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JÚNIOR, Waldomiro. Introdução à Geografia Médica do Brasil. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo – Editora Edgard Blücher Ltda., 1972.
MELCHIOR, Lirian. Migrantes
japoneses: um ciclo migratório – O
caso de Londrina – PR. Dissertação de Mestrado, Presidente Prudente:
Universidade Estadual Paulista, 2003.
MONBEIG, Pierre. Pioneiros
e fazendeiros de São Paulo. São Paulo: Editora Polis Ltda., 1984.
ROJAS, Luisa
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perspectivas en América Latina. Cad.
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Gráfica Ipê. Paraná, 1974.
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