As
joias contemporâneas - da mesma maneira que a arte de nosso tempo - vêm
assumindo formas e características peculiares. Os materiais usados,
especialmente com o advento da industrialização, se diversificaram. No design,
em muitos casos, percebe-se ausência de critério estético. São peças
desenhadas e confeccionadas para exibição momentânea, descompromissadas de
propósito embelezador. Algumas parecem ter saído do “ferro-velho” diretamente
para os corpos, modificando assim o próprio conceito de joia. Não desmerecendo
a tendência, pois tudo na arte é válido como intenção criadora, considero o
máximo da joalheria contemporânea joias valiosas que lembram bijuterias baratas
e exigem algum esforço na identificação dos materiais. Peças de ouro banhadas
em ródio negro ou oxidadas, com aspecto de ferrugem, são para apreciar.
Há
10 anos esbocei alguns desenhos de joia para uma amiga que queria reunir em
poucas peças todas as gemas que ela tinha. Eram 300 pequenos rubis rosas, 300
minúsculos diamantes, uma morganita quadrada e uma enorme água-marinha azul esverdeada
retangular com cerca de 70 quilates, lapidação esmeralda. Na ocasião, tive a
ideia de criar dois broches que pudessem ser usados também como pingentes. Resolvemos
que a morganita ficaria ladeada com os rubis e diamantes numa caixa de
ouro rosa e a água-marinha, pela perfeita lapidação e raridade, numa discreta estrutura
de platina sem nenhuma outra pedra. Com o passar do tempo perdi os desenhos e o
contato com essa amiga, dona de um pensionato onde morei, mas as joias foram
feitas com primor.
Poucas
coisas são mais hipnotizantes do que gemas na lapidação esmeralda e diamantes
em estojos de veludo. Detalhes de uma de joia são fundamentais para quem
aprecia. Se o que se quer é qualidade, deve-se entregar a tarefa a um ourives
experiente. Pelo brilho e pelas cores, as pedras preciosas que mais admiro são
as do grupo do berilo. Após um curso de desenho de joias que fiz no SENAC, ministrado
pelos talentosos professores Alain Monteiro e Dalva Ferrari, em que era preciso
desenvolver um portfólio ao final, recomendei ao meu primeiro cliente, que todas as peças fossem feitas em platina, ouro branco ou prata se o
propósito for seguir à risca meu projeto autoral. O foco que me interessa no
universo da joalheria é sempre a gema. A função do metal, neste caso, é compor
a estrutura da peça que, às vezes, é única.
Quando
mulher (ou homem, por que não?) usa uma joia de maneira elegante tem-se a
harmonia perfeita. Elegância é muito mais postura e comportamento do que exibicionismo.
Nada contra a atitude de quem coloca um objeto precioso no corpo e faz questão
de mostrar o tempo todo. Isso chega a ser engraçado. Elegância está associada à
simplicidade, último grau de sofisticação nas palavras de Leonardo Da Vinci.
Uma
joia, mesmo sendo de época, deve ser atemporal e simultaneamente marcar um
estilo. Deve ser feita para durar. Não apenas levar em conta modismos de
passarela, do mundo fashion e fotográfico. Extravagante ou discreta, delicada
ou grosseira, com ou sem gemas, necessita ter identidade para acrescentar algo
e marcar presença. Independentemente do preço, este é o verdadeiro poder de uma
joia: encantar!
Pesquisei
centenas de desenhistas e joalheiros ao longo daqueles meses de curso. Alguns
estão listados na barra direita deste blog. Com exceção de clássicos da pintura
que retrataram joias em suas naturezas-mortas, como Brueghel e Evert Collier,
pintores que admiro num contexto mais amplo, a maior referência que conheço no
design de joias é o francês René Lalique (1860-1945). No design contemporâneo, também
verificando algumas semelhanças nas formas com os trabalhos de Lalique, merece destaque a produção
do brasileiro Fernando Jorge e da inglesa Hollie Bonneville Barden, ambos
radicados em Londres. Estes têm produzido verdadeiros feitos no universo do design da joalheria artística contemporânea.
Arte
em destaque: “Poppy”, 1897 – René Lalique. © Musée d'Orsay.