sábado, 26 de janeiro de 2013

A "invisibilidade" de São Carlos

Vivências no campo experiencial (imediato) e imaginário (mediato) podem possibilitar a descoberta de infinitos lugares, frequentemente invisíveis e distintos. A cidade de São Carlos, como qualquer outra, possui uma alma que deve ser desvendada aos poucos.
São Carlos localiza-se no centro do Estado de São Paulo, guarda peculiaridades da época em que era "boca de sertão", e continua surpreendendo com suas construções antigas próximas da estação ferroviária, os hotéis que na época eram de alta rotatividade e até mesmo com o apito dos trens de carga que passam de hora em hora pela cidade.

Luz do trem. Foto: Joviniano Netto

 Paisagem de São Carlos. Foto: Joviniano Netto

Enquanto eu fotografava flores no chão, caídas de paineiras, bem longe via um gari se preparando para varrê-las. Fui na direção dele para iniciar um dedo de prosa e conhecer um pouco sobre o seu olhar acerca da cidade. Comentei que no ano passado a florada havia sido maior e que seria um sacrilégio tirar o tapete de flores dali naquele momento, enquanto elas ainda estavam frescas e brilhantes.

 
Foto: Joviniano Netto.

Feliz da vida, Lucas (nome do gari) reclamou da vassoura e justificou que era preciso varrer a calçada, pois se chovesse, ficaria escorregadia e poderia causar um acidente. Não seria nada legal alguém quebrar o braço ou a perna ao cair na calçada da margem direita do córrego do Gregório (rio que passa em frente ao Parque da Chaminé, ao Mercado Municipal e ao SESC.
 
Enquanto varria, Lucas começou a descrever a função das praças de São Carlos onde já trabalhou e a importância do acesso das pessoas às fontes, árvores, plantas, bancos e vias públicas. Função esta que vem sendo transferida para (não)lugares como shopping centers e postos de gasolina, locais onde se reúnem pessoas em busca de diversão, cerveja e som alto.

Por um momento cheguei a imaginar que não vivíamos na mesma cidade. De fato, não vivemos. Cada pessoa possui uma cidade particular dentro de si, subjetiva e configurada em seu campo existencial. Se na cidade objetiva a forma pode ser captada por todos, na subjetiva quase nunca isso é possível; isso remeteu ao livro de autoria de Ítalo Calvino, "As cidades invisíveis", leitura muito interessante por sinal.

 
Parque da Chaminé sem iluminação durante a Earth Hour. Foto: Joviniano Netto

 Parque da Chaminé durante a Earth Hour. Foto: Joviniano Netto

Catedral de São Carlos Borromeu sem iluminação durante a Earth Hour. Foto: Joviniano Netto

 Catedral São Carlos Borromeu durante a Earth Hour. Foto: Joviniano Netto



As "cidades invisíveis" revelam ligações entre o real e o imaginário, e no caso de uma observação mais aprofundada, apreendê-las exige o uso da Fenomenologia como suporte. Lucas e centenas de anônimos que vivem em São Carlos seriam um prato cheio para uma pesquisa antropológica e geográfica. Para aproveitar São Carlos é preciso enxergá-la e (des)velá-la. Tudo é uma questão de percepção.

Paineira 2010, 2011, 2012 e 2013. Fotos: Joviniano Netto.

Fotos: Joviniano Netto.