sexta-feira, 4 de abril de 2014

Raimundo Falcão de Oliveira: pintor da Bahia

(Feira de Santana, BA, 1930 - Salvador, BA, 1966)

Desenhista, pintor autodidata, gravador. Iniciou sua carreira ainda criança em Feira de Santana, onde pintava cenas bíblicas e a vida de Jesus, provavelmente influenciado pela mãe, que também era pintora e tinha a religião como fonte de inspiração.

A partir de 1947 mudou-se para Salvador e realizou cursos na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, tendo contato frequente com artistas como Maria Célia Amado, Mario Cravo Júnior e Jenner Augusto. Em 1958 transferiu-se para São Paulo e permaneceu com a temática religiosa desde sempre, incorporando temas mais amplos e a técnica da xilogravura na sua obra. Abaixo são reproduzidos trechos de um texto crítico de Jorge Amado apresentado no prefácio de um álbum de xilogravuras organizado por Julio Pacello e editado por Lia Cesar (1966):
"E então todos se deram conta que o burel não era um burel, era uma velha capa contra a chuva, e o cajado não era cajado, eram pincéis de pintura. E havia uma tela e o cujo sujeito pintava. Alguns quiseram apedrejá-lo, considerando-o um vigarista vindo de fora, mas outros reconheceram o peregrino e a ele se dirigiram, tratando-o familiarmente de Mundinho. Pois era Raimundo de Oliveira, filho da terra, desde menino um vago, sem jeito para o trabalho, a não ser para riscar papel, se isso é trabalho que se considere. Tinha ido embora fazia tempo, dele não havia notícia. Apareceu agora de repente e em torno de sua grande cabeça pairava uma atmosfera mágica, como se o cercasse a luz da madrugada.
Esse pintor, esse grande pintor da Bíblia e da Bahia, esse que passou a limpo a violência do Velho Testamento e o tornou de maciez de veludo, esse que encheu de flores a áspera tragédia antiga, esse moço de voz tímida e segura certeza, esse Raimundo de Oliveira é um profeta com alma de Francisco de Assis. Só a Bahia o podia produzir, nos caminhos da cidade onde nasce o sertão; só a Bahia o podia alimentar e o oferecer às galerias do sul, à glória e à fama, pois sua Bíblia tem uma respiração de candomblé (não fosse ele filho de mãe Senhora de Ôpo Afonjá e não houvesse aprendido a cozinhar com Olga do Aleketu). Mestre pintor, não sei de outro que tenha crescido tanto em sua arte, mantendo-se tão fiel aos sonhos de sua meninice, às esperanças de sua Mãe e ao seu tesouro escondido.
Raimundo de Oliveira (...) não ficou na Bahia. Era um profeta e tinha de levar sua profecia mundo adentro. Tinha de correr os caminhos e demorar em terras distantes. Anda por aqui e por ali, mas é na Bahia que ele vem se alimentar de terra, de animais, de Deus e de amor, é na Bahia que ele vem, humilde e vitorioso, reapreender o mistério do homem e sua necessidade de paz e de fartura".

 Raimundo de Oliveira, 1958. Cena bíblica (Pietá). Aquarela sobre cartão. 22,5 x 31 cm.
Coleção Joviniano Netto, Brasil.
Foto: Joviniano Netto.

Raimundo de Oliveira, 1958. Cena bíblica. Aquarela sobre cartão. 50 x 70 cm. 
Acervo do Museu de Arte de Santa Catarina.
Foto: MASC.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

João Zeferino da Costa: um marco na história da arte do Brasil

(Rio de Janeiro, RJ, 1840 - Rio de Janeiro, RJ, 1916)

Pintor, decorador e professor. Estudou na Academia Imperial de Belas Artes em 1857, destacando-se como aluno de Victor Meirelles. Dentre os vários prêmios recebidos em exposições da Academia Imperial de Belas Artes destacam-se as medalhas de prata (1859), ouro (1860) e grande medalha de prata (1866). Em 1868 ganhou um prêmio de viagem à Europa, passando a estudar na Accademia di San Luca, em Roma, ocasião em que realizou diversas viagens pela Europa e pela África.

Em 1877, retornando ao Brasil, ocupou temporariamente a cadeira de pintura histórica da Academia Imperial de Belas Artes. Ninguém é substituível e Zeferino da Costa, no período em que lecionou nesta disciplina, foi quem primeiro sugeriu o uso da fotografia como ferramenta nas aulas de desenho, ao invés do uso de gravuras apenas. Lecionou desenho de modelo vivo na já então chamada Escola Nacional de Belas Artes.
Para Araújo Viana (1961), Lygia Martins Costa (1961), Adalberto Pinto de Matos (1944), Carlos Rubens (1941), Alfredo Galvão (1973), Arnaldo Machado (1984) dentre outros teóricos, Zeferino da Costa, Victor Meirelles e Pedro Américo formam a tríade dos grandes mestres da pintura do Império Brasileiro. No entanto, hoje em dia, até mesmo as elites das artes no Brasil desconhecem o legado de Zeferino da Costa. Muitos dos especialistas em história da arte que consultei disseram não ter conteúdo para opinar sobre o pintor em foco por desconhecimento. Coli (2005) considera Almeida Júnior um dos pintores da mencionada tríade. De fato, diante da vasta produção literária sobre todos os pintores aqui citados, podem (e devem) ser gerados textos com pontos de vista distintos. Um artista bom não tira o mérito de outro; e cada qual pode ser reconhecido pelas suas particularidades.

Coincidência ou não, depois que Zeferino da Costa apresentou 17 pinturas na Exposição da Escola Nacional de Belas Artes em 1879 e teve uma de suas obras – A Pompeana - duramente criticada por Gonzaga Duque, ele nunca mais expôs seus trabalhos ao público, passando a se dedicar ao ensino de desenho de modelo vivo na academia e aos murais da Igreja da Candelária. Abaixo, seguem trechos da crítica sobre a Pompeana:

“O maior defeito que tem esta falsa pompeana Fritz & Mack é o de ocultar nos recessos do corpo a reuma peçonhenta que aduba as flores do deboche. Este corpo é pérfido como a deslumbrante aparência da urtiga das montanhas a que a população montezinha chama arrebenta-cavalos... A incauta mocidade não tem a observação bastante fiel para reparar nos postiços que entraram na conformação daquele corpo de coldcream; aquilo assim arranjado como está não prova cuidados ortopédicos, foi conseguido há alguns anos a esta parte para o gosto exclusivo dos colegiais que martirizam os respectivos buços, vaidosos de parecerem homens e dos velhos estafados em uso de coleópteros afrodisíacos... É incompreensível este inglório trabalho, este de retratar cocottes esbodegadas, em um moço de grande talento e de grandes aptidões de artista. Qual a causa de aparecer pompeana esta ruim, esta ignóbil figura, lavada em óleo, emplastada de gorduras aromáticas, besuntada de veloutine para disfarçar a alambazada estrutura de suas formas? Pompeana por quê?”.
 

A Pompeana. 219 x 120 cm. Acervo do Museu Nacional de Belas Artes.
Foto: Joviniano Netto.
 
De certo a Pompeana mexeu com o crítico para provocar tamanha ira. O que ele diria se, ao lado da Pompeana, estivesse "A Carioca" de Pedro Américo?

Os trabalhos de Zeferino da Costa são raros, porém, significativos para a história da arte brasileira pela representatividade na maestria com os pincéis, sempre colocando muita técnica e conhecimentos históricos e/ou geográficos em seus trabalhos, com farta crítica especializada disponível a quem se interessar.
Além disto, Zeferino da Costa escreveu também o livro “Mecanismos e proporções da figura humana”, publicado em 1917, dois anos após sua morte. Este livro foi por muito tempo uma referência para os estudantes daquela época. Entre seus alunos destacam-se Rodolfo Amoedo, Rodolfo Chambelland, Giovanni Battista Castagneto, Henrique Bernardelli, Belmiro de Almeida, Baptista da Costa, Oscar Pereira da Silva, Lucílio de Albuquerque, Firmino Monteiro, entre outros.
É considerado um importante mestre da pintura brasileira e suas obras podem ser encontradas no Museu Nacional de Belas Artes, no Museu D. João VI (UFRJ), na Igreja de Nossa Senhora da Candelária (RJ), no acervo do Banco Itaú S. A. (SP) e em coleções particulares.

REFERÊNCIAS

ACQUARONE, Francisco; VIEIRA, Adão de Queiroz. Primores da pintura no Brasil. Rio de Janeiro, 1942. v. 1.

ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

AYALA, Walmir. Dicionário de pintores brasileiros. 2.ed. rev. Organização André Seffrin. Curitiba: UFPR, 1997. 429 p.

CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983. 292 p.

CAVALCANTI, Carlos (org.); AYALA, Walmir (org.). Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Brasília: MEC, 1973.

COLI, Jorge. Como estudar a arte brasileira do século XIX? Coleção Livre Pensar. Editora do Senac, 2005.

FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983. 677 p.

GALVÃO, Alfredo. João Zeferino da Costa. Rio de Janeiro: Departamento Gráfico do Museu de Armas Ferreira da Cunha, 1973.

LEITE, José Roberto Teixeira. 500 anos da pintura brasileira. Produção Raul Luis Mendes Silva, Eduardo Mace; design Alessandra Gerin; trilha sonora Roberto Araújo. Log On Informática, 1999. 1 CD-ROM.

LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988. 555 p.

LEVY, Carlos Roberto Maciel. Iconografia e paisagem: Cultura Inglesa collection. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1994. 257p.

MACHADO, Arnaldo. Aspectos de marinha na obra de João Zeferino da Costa. Rio de Janeiro: ABM, 1984. 69 p.

MAURICIO, Virgilio. Algumas figuras. Rio de Janeiro: Pimenta de Mello, 1918. 185 p.

MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte do século XIX. Curadoria geral: Nelson Aguilar; organização Nelson Aguilar; coordenação Suzanna Sassoun; curadoria Luciano Migliaccio, Pedro Martins Caldas Xexéo; tradução Roberta Barni, Christopher Ainsbury, John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo : Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. 223 p.

PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Texto Mário Barata, Lourival Gomes Machado, Roberto Pontual, Carlos Cavalcanti, Flávio Mota, Aracy Amaral, Walter Zanini, Ferreira Gullar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969. 559 p.

RUBENS, Carlos. Pequena história das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Nacional, 1941. 388p.

SILVA NETTO, Joviniano Pereira. João Zeferino da Costa: um marco na história da arte do Brasil. São Paulo: Mimeo, 2014. 288 p.

SOUZA, Wladimir Alves de. Aspectos da arte brasileira. Rio de Janeiro: Funarte, 1981. 132 p.

ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães : Instituto Moreira Salles, 1983. v. 1, 490 p.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Caio Carvalho

(Tabapuã, SP)

Pintor, desenhista, professor. Autodidata, desenvolveu um estilo peculiar ao explorar a penumbra cromática e a clareza semântica em suas obras. Possui obras em importantes coleções no Brasil e no exterior, como por exemplo, Museu do Centro Cultural de São José do Rio Preto, Pinacoteca Municipal, além de colecionadores do Japão, Estados Unidos, Canadá e França. É um dos mais importantes pintores do interior de São Paulo, em especial, de São José do Rio Preto.

Dentre as inúmeras exposições e prêmios conquistados em exposições destacam-se:

Medalhas de ouro:
V Salão Oficial de Belas Artes de Matão (1982);
I Salão de Belas Artes de Franca (1986);
Salão Pararrealista de Artes Plásticas de Matão (1986);
VIII Salão de Artes Plásticas de Mogi-Mirim (1990);
VII Salão Poços Caldense de Belas Artes (Poços de Caldas, 1990).

Medalhas de prata:
11º Salão de Belas Artes de Jaboticabal (1972);
43º Salão Paulista de Belas Artes (São Paulo, 1979);
I Salão de Arte Contemporânea de São José de Rio Preto (1982);
47º Salão Paulista de Belas Artes (São Paulo, 1984);
XIV Salão Ararense de Artes Plásticas (São Paulo, 1991);
VI Salão de Arte Contemporânea de São José do Rio Preto (1987);
XII Salão Oficial de Belas Artes de Matão (1989);
VII Salão de Artes Plásticas de Araraquara (1989);
XXVII Salão ararense de Artes Plásticas (Araras, 1991);
X Salão de Arte Contemporânea de São José do Rio Preto (1991).

Medalhas de bronze:
II Exposição Coletiva de Belas Artes de Nova Odessa (1968);
8º Salão de Belas Artes de Jaboticabal (1969);
I Salão Limeirense de Arte Contemporânea (Limeira, 1973);
XXXIX Salão Paulista de Belas Artes (São Paulo, 1974);
I Salão de Belas Artes de Rio Claro (1975);
I Salão da Secretaria Amigos do Salão Paulista (1976);
9º Salão Limeirense de Arte Contemporânea (Limeira, 1981);
III Salão de Artes Plásticas de Marília (1982).

Trofeus:
Centro Cultural Professor Daud Jorge Simão (São José do Rio Preto, 1981);
Prefeito Adail Vetorazzo (São José do Rio Preto, 1982);
Prefeito Manoel Antunes (São José do Rio Preto, 1985);
Prefeito Jayme Gimenes (Matão, 1987).

Em 1985, Caio Carvalho recebeu o diploma de Honra ao Mérito oferecido Pela Secretaria de Estado da Cultura, Ciências e Tecnologia do Estado de São Paulo.

 Estrada com árvores, s.d. Óleo sobre tela. 50 cm x 40,5 cm. Coleção particular, Brasil.
Foto: Joviniano Netto.