(Feira de Santana, BA, 1930 - Salvador, BA, 1966)
Desenhista, pintor autodidata, gravador. Iniciou sua carreira ainda criança em Feira de Santana, onde pintava cenas bíblicas e a vida de Jesus, provavelmente influenciado pela mãe, que também era pintora e tinha a religião como fonte de inspiração. 
A partir de 1947 mudou-se para Salvador e realizou cursos na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, tendo contato frequente com artistas como Maria Célia Amado, Mario Cravo Júnior e Jenner Augusto. Em 1958 transferiu-se para São Paulo e permaneceu com a temática religiosa desde sempre, incorporando temas mais amplos e a técnica da xilogravura na sua obra. Abaixo são reproduzidos trechos de um texto crítico de Jorge Amado apresentado no prefácio de um álbum de xilogravuras organizado por Julio Pacello e editado por Lia Cesar (1966): 
"E então todos se deram conta  que o burel não era um burel, era uma velha capa contra a chuva, e o  cajado não era cajado, eram pincéis de pintura. E havia uma tela e o  cujo sujeito pintava. Alguns quiseram apedrejá-lo, considerando-o um  vigarista vindo de fora, mas outros reconheceram o peregrino e a ele se  dirigiram, tratando-o familiarmente de Mundinho. Pois era Raimundo de  Oliveira, filho da terra, desde menino um vago, sem jeito para o  trabalho, a não ser para riscar papel, se isso é trabalho que se  considere. Tinha ido embora fazia tempo, dele não havia notícia.  Apareceu agora de repente e em torno de sua grande cabeça pairava uma  atmosfera mágica, como se o cercasse a luz da madrugada. 
Esse pintor, esse grande pintor da Bíblia e da Bahia, esse que passou a limpo a violência do Velho Testamento e o tornou de maciez de veludo, esse que encheu de flores a áspera  tragédia antiga, esse moço de voz tímida e segura certeza, esse Raimundo de Oliveira é um profeta com alma de Francisco de Assis. Só a Bahia o  podia produzir, nos caminhos da cidade onde nasce o sertão; só a Bahia o podia alimentar e o oferecer às galerias do sul, à glória e à fama,  pois sua Bíblia tem uma respiração de candomblé (não fosse ele  filho de mãe Senhora de Ôpo Afonjá e não houvesse aprendido a cozinhar  com Olga do Aleketu). Mestre pintor, não sei de outro que tenha crescido tanto em sua arte, mantendo-se tão fiel aos sonhos de sua meninice, às  esperanças de sua Mãe e ao seu tesouro escondido. 
Raimundo de Oliveira (...) não ficou na Bahia. Era um profeta e tinha de levar sua profecia mundo adentro. Tinha de correr os caminhos e demorar em terras distantes. Anda por aqui e por ali, mas é  na Bahia que ele vem se alimentar de terra, de animais, de Deus e de  amor, é na Bahia que ele vem, humilde e vitorioso, reapreender o  mistério do homem e sua necessidade de paz e de fartura".
 Raimundo de Oliveira, 1958. Cena bíblica (Pietá). Aquarela sobre cartão. 22,5 x 31 cm. 
Coleção Joviniano Netto, Brasil.
Foto: Joviniano Netto.
Foto: Joviniano Netto.
Raimundo de Oliveira, 1958. Cena bíblica. Aquarela sobre cartão. 50 x 70 cm. 
Acervo do Museu de Arte de Santa Catarina.
Foto: MASC.
