quinta-feira, 3 de abril de 2014

João Zeferino da Costa: um marco na história da arte do Brasil

(Rio de Janeiro, RJ, 1840 - Rio de Janeiro, RJ, 1916)

Pintor, decorador e professor. Estudou na Academia Imperial de Belas Artes em 1857, destacando-se como aluno de Victor Meirelles. Dentre os vários prêmios recebidos em exposições da Academia Imperial de Belas Artes destacam-se as medalhas de prata (1859), ouro (1860) e grande medalha de prata (1866). Em 1868 ganhou um prêmio de viagem à Europa, passando a estudar na Accademia di San Luca, em Roma, ocasião em que realizou diversas viagens pela Europa e pela África.

Em 1877, retornando ao Brasil, ocupou temporariamente a cadeira de pintura histórica da Academia Imperial de Belas Artes. Ninguém é substituível e Zeferino da Costa, no período em que lecionou nesta disciplina, foi quem primeiro sugeriu o uso da fotografia como ferramenta nas aulas de desenho, ao invés do uso de gravuras apenas. Lecionou desenho de modelo vivo na já então chamada Escola Nacional de Belas Artes.
Para Araújo Viana (1961), Lygia Martins Costa (1961), Adalberto Pinto de Matos (1944), Carlos Rubens (1941), Alfredo Galvão (1973), Arnaldo Machado (1984) dentre outros teóricos, Zeferino da Costa, Victor Meirelles e Pedro Américo formam a tríade dos grandes mestres da pintura do Império Brasileiro. No entanto, hoje em dia, até mesmo as elites das artes no Brasil desconhecem o legado de Zeferino da Costa. Muitos dos especialistas em história da arte que consultei disseram não ter conteúdo para opinar sobre o pintor em foco por desconhecimento. Coli (2005) considera Almeida Júnior um dos pintores da mencionada tríade. De fato, diante da vasta produção literária sobre todos os pintores aqui citados, podem (e devem) ser gerados textos com pontos de vista distintos. Um artista bom não tira o mérito de outro; e cada qual pode ser reconhecido pelas suas particularidades.

Coincidência ou não, depois que Zeferino da Costa apresentou 17 pinturas na Exposição da Escola Nacional de Belas Artes em 1879 e teve uma de suas obras – A Pompeana - duramente criticada por Gonzaga Duque, ele nunca mais expôs seus trabalhos ao público, passando a se dedicar ao ensino de desenho de modelo vivo na academia e aos murais da Igreja da Candelária. Abaixo, seguem trechos da crítica sobre a Pompeana:

“O maior defeito que tem esta falsa pompeana Fritz & Mack é o de ocultar nos recessos do corpo a reuma peçonhenta que aduba as flores do deboche. Este corpo é pérfido como a deslumbrante aparência da urtiga das montanhas a que a população montezinha chama arrebenta-cavalos... A incauta mocidade não tem a observação bastante fiel para reparar nos postiços que entraram na conformação daquele corpo de coldcream; aquilo assim arranjado como está não prova cuidados ortopédicos, foi conseguido há alguns anos a esta parte para o gosto exclusivo dos colegiais que martirizam os respectivos buços, vaidosos de parecerem homens e dos velhos estafados em uso de coleópteros afrodisíacos... É incompreensível este inglório trabalho, este de retratar cocottes esbodegadas, em um moço de grande talento e de grandes aptidões de artista. Qual a causa de aparecer pompeana esta ruim, esta ignóbil figura, lavada em óleo, emplastada de gorduras aromáticas, besuntada de veloutine para disfarçar a alambazada estrutura de suas formas? Pompeana por quê?”.
 

A Pompeana. 219 x 120 cm. Acervo do Museu Nacional de Belas Artes.
Foto: Joviniano Netto.
 
De certo a Pompeana mexeu com o crítico para provocar tamanha ira. O que ele diria se, ao lado da Pompeana, estivesse "A Carioca" de Pedro Américo?

Os trabalhos de Zeferino da Costa são raros, porém, significativos para a história da arte brasileira pela representatividade na maestria com os pincéis, sempre colocando muita técnica e conhecimentos históricos e/ou geográficos em seus trabalhos, com farta crítica especializada disponível a quem se interessar.
Além disto, Zeferino da Costa escreveu também o livro “Mecanismos e proporções da figura humana”, publicado em 1917, dois anos após sua morte. Este livro foi por muito tempo uma referência para os estudantes daquela época. Entre seus alunos destacam-se Rodolfo Amoedo, Rodolfo Chambelland, Giovanni Battista Castagneto, Henrique Bernardelli, Belmiro de Almeida, Baptista da Costa, Oscar Pereira da Silva, Lucílio de Albuquerque, Firmino Monteiro, entre outros.
É considerado um importante mestre da pintura brasileira e suas obras podem ser encontradas no Museu Nacional de Belas Artes, no Museu D. João VI (UFRJ), na Igreja de Nossa Senhora da Candelária (RJ), no acervo do Banco Itaú S. A. (SP) e em coleções particulares.

REFERÊNCIAS

ACQUARONE, Francisco; VIEIRA, Adão de Queiroz. Primores da pintura no Brasil. Rio de Janeiro, 1942. v. 1.

ARTE no Brasil. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

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CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983. 292 p.

CAVALCANTI, Carlos (org.); AYALA, Walmir (org.). Dicionário brasileiro de artistas plásticos. Brasília: MEC, 1973.

COLI, Jorge. Como estudar a arte brasileira do século XIX? Coleção Livre Pensar. Editora do Senac, 2005.

FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983. 677 p.

GALVÃO, Alfredo. João Zeferino da Costa. Rio de Janeiro: Departamento Gráfico do Museu de Armas Ferreira da Cunha, 1973.

LEITE, José Roberto Teixeira. 500 anos da pintura brasileira. Produção Raul Luis Mendes Silva, Eduardo Mace; design Alessandra Gerin; trilha sonora Roberto Araújo. Log On Informática, 1999. 1 CD-ROM.

LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário crítico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988. 555 p.

LEVY, Carlos Roberto Maciel. Iconografia e paisagem: Cultura Inglesa collection. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1994. 257p.

MACHADO, Arnaldo. Aspectos de marinha na obra de João Zeferino da Costa. Rio de Janeiro: ABM, 1984. 69 p.

MAURICIO, Virgilio. Algumas figuras. Rio de Janeiro: Pimenta de Mello, 1918. 185 p.

MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte do século XIX. Curadoria geral: Nelson Aguilar; organização Nelson Aguilar; coordenação Suzanna Sassoun; curadoria Luciano Migliaccio, Pedro Martins Caldas Xexéo; tradução Roberta Barni, Christopher Ainsbury, John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo : Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000. 223 p.

PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Texto Mário Barata, Lourival Gomes Machado, Roberto Pontual, Carlos Cavalcanti, Flávio Mota, Aracy Amaral, Walter Zanini, Ferreira Gullar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969. 559 p.

RUBENS, Carlos. Pequena história das artes plásticas no Brasil. São Paulo: Nacional, 1941. 388p.

SILVA NETTO, Joviniano Pereira. João Zeferino da Costa: um marco na história da arte do Brasil. São Paulo: Mimeo, 2014. 288 p.

SOUZA, Wladimir Alves de. Aspectos da arte brasileira. Rio de Janeiro: Funarte, 1981. 132 p.

ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães : Instituto Moreira Salles, 1983. v. 1, 490 p.