O Cerrado Paulista no município de Rio Claro pede socorro. E apenas pessoas corajosas conseguem, pela experiência da coragem, vivenciar a magnífica beleza da fauna e flora e, mais do que isto, analisar à luz das leis as áreas visitadas, sobretudo com seus problemas sociais e ambientais, criando conteúdo como, por exemplo, um artigo, livro ou simplesmente uma postagem de blog com fotografias. No caso do presente texto não haverá fotografias, pois decidi usar apenas as palavras para descrever, não tendo vontade de registrar nada além do meu depoimento. Eu sou pesquisador independente, embora atualmente seja bolsista da Capes, me apresento dessa maneira nos artigos que publico sozinho, e por causa disto sou livre para pesquisar e escrever sobre o que quiser, sem medo de ser boicotado por grupos ou panelinhas capazes de ferir egos acadêmicos ou interesses financeiros.
Nesta
semana, depois de quase dois anos morando em Rio Claro, decidi seguir a estrada
que, depois do Laboratório de Microbiologia da Unesp, leva à zona tampão (ou
zona de amortecimento) da Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade. Fui
sozinho, da Unesp, em direção aos eucaliptos seguindo estradas de terra e me
deparei com uma área muito rica de Cerrado, com espécies nativas que
provavelmente sequer foram descobertas ainda, desconfiando fortemente que tal
área se trata de um hot spot do Cerrado Paulista devido a preservação. O
Cerrado é o bioma mais antigo do planeta Terra e sua florescência se dá na
maior parte das vezes por meio de estruturas chamadas de “xilopódios”, órgãos
subterrâneos que conseguem brotar depois de queimadas. Removendo os xilopódios
certamente nunca mais haverá brotamentos.
Ocorre
que tal área, com cerca, e provavelmente não pertencente à Universidade,
principalmente porque as pessoas evitam a região com medo de assalto ou
violência, está se fragmentando por causa de retirada da vegetação nativa. Para
entender os danos causados pela fragmentação da paisagem, sob minha
perspectiva, sugiro ler o artigo que publiquei em co-autoria com Frederico Yuri
Hanai, da UFSCar e Marcelo Concário, da Unesp Bauru, intitulado “Análise da
fragmentação da paisagem na região de Bom Repouso” disponível online e impresso
na Revista Geografia de Rio Claro. A publicação é de 2008, mas o tema continua
atual. Depois dessa publicação passei a realizar um belo trabalho iconográfico
do Cerrado Paulista situado em São Carlos, onde fiz mestrado, na companhia da
pesquisadora Janete Brigante e as fotografias estão com ela, pois foi uma das
que opinou na época no projeto da Lei do Cerrado durante a consulta pública.
Eu
puxei conversa com alguns trabalhadores que estavam lá quando fui explorar a
área para fotografar e descobri, segundo informações de 5 trabalhadores, que
irão retirar a vegetação nativa para instalar uma usina fotovoltaica. Usando o
território da Unesp para adentrar a zona de amortecimento da FEENA, que almeja
ser uma universidade sustentável, a exemplo da Universidade de São Paulo, estão
as atividades a pleno vapor, com abertura de valas gigantescas e remoção de
terra para, na mais sublime e triste cegueira, enterrar o Cerrado Paulista e
desta forma ninguém ver o crime ambiental que estão cometendo diariamente por
lá. Foi assim que o cerrado morreu em vários lugares que conheço, dentre estes
o cerrado de Brotas, estudo de caso de meu mestrado na USP. Soterrando. Enterrando.
Segundo informações dos funcionários da empresa privada, duas que consultei,
sendo uma a Master Engenharia com sede em Rio Claro e a outra com sede em São
Paulo, cujo nome não me lembro agora, a partir da semana que vão já vão fazer a
“limpeza” do lugar usando correntes e tratores. É inadmissível que depois de
mais de uma década da implementação da Lei 13.550 de 02 de junho de 2009, também
conhecida como Lei do Cerrado, isto ainda ocorra no estado de São Paulo, tido
como o mais avançado no quesito “leis ambientais”. É muito descaso, sobretudo
porque há na Unesp Campus de Rio Claro cursos de Biologia e Engenharia
Ambiental, além da Geografia (minha área), supostamente formadores de líderes e
ambientalistas, e, pesquisando por algumas palavras-chave nos buscadores como
Scholar Google, não há muitos trabalhos científicos sobre o “quintal de casa” feito
pelos que passam a maior parte do tempo dentro de suas salas. Tenho a impressão
de que funcionários (professores principalmente) e alunos só se interessam por
estudar áreas que já possuem bastante referência a respeito. Uma unidade de
conservação do calibre da Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade necessita,
incluindo aí a zona de amortecimento, explorar mais a área sob o viés da
ciência de maneira sistêmica e não isolada, para garantir que o patrimônio
natural (chamar o Cerrado Paulista de patrimônio natural não é falácia para
quem conhece sua potencialidade para inclusive criar medicamentos para
doenças até então sem cura) chegue às mãos das gerações futuras e, também, às
nossas. Eu não quero nem preciso de torcidas para me acompanhar nem aqui nem em
lugar nenhum. E por isto valorizo ainda mais a minha liberdade! Minha liberdade
de ir e vir em tempos de paz para onde eu quiser no Brasil. Minha intenção era também acompanhar todo o curso do córrego que passa ao lado da Unesp registrando o que achar interessante.
Da
nascente até a região da Unesp o desafio da vida ainda se faz presente,
principalmente porque o aspecto social não pude deixar de observar. É um risco,
devemos assumir, mas com cuidado tudo dá certo no levantamento ou criação de dados. Mesmo
com medo de gente desconhecida que habita a bacia hidrográfica, fui em direção
ao que pretendia levantar, como pesquisador independente em Rio Claro, e notei
a presença de muita gente usando crack com seus cachimbos feitos de várias
maneiras e um cheiro horroroso que tive vontade de vomitar quando senti, chegando inclusive a conversar com alguns deles,
mas perdendo contato com todos depois. Isto é um problema sério de saúde
pública e os anjos na Terra que são responsáveis por contribuir para um mundo
melhor, deveriam ir lá em busca de viciados e doente para se tratarem, seguindo o
exemplo da irmã Dulce, que em Salvador ia atrás de pessoas que necessitavam de
auxílio e os curavam, ou os davam uma boa morte. Me disseram que a polícia nunca entra
lá, mas nunca é muito tempo, pois é território de traficantes que escondem e comercializam suas drogas
na margem direita do córrego. E eu ao ver os barracos achei que se tratava de um
acampamento dos Sem-Terra ou moradia de mendigos, mas logo disseram que se
trata da “boca” do bairro. É problemático isto? Sim! Vou resolver o problema de
Rio Claro? Não! Definitivamente não, pois nem é meu tema de interesse maior
isto, apesar do que, encaminharei este texto para a política ambiental e até
para a Unesco, cujo órgão tenho interagido em parceria com minha pesquisa em Paraty, e que
recentemente concedeu o título de Cidade Árvore do Mundo a Rio Claro. É mesmo?
Destruindo o Cerrado? Ah, vamos lá... Ainda não terminei. Falta pouco para meu
texto ficar eternamente publicado aqui e você chegar a outros pontos mais
sombrios.
Ao
retornar para casa, passando por dentro da Unesp, fui abordado por um segurança
mal-educado chamado “Brito”, que me pediu o RG e eu só estava com a carteirinha
da Unesp, sem foto. Foi o que a Unesp conseguiu me dar (deveriam fornecer
cartão de identificação com foto para os alunos, como fazem outras boas universidades,
mas querem economizar para gastar sabe lá Deus com o que. Tem que gastar o
dinheiro público sim, mas em benefício de toda a comunidade). Que tal a sugestão?
O
segurança Brito queria me levar para a portaria da praça próxima à igreja de
Santa Luzia e me expulsar da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", pelo que entendi na abordagem, mas
logo adentrei uma sala de aula no Instituto de Biociências e falei sobre minha
descoberta (que existe a ameaça real de derrubada do Cerrado Paulista próximo
da Unesp com correntes e tratores na semana que vem), deixando claro também que
minha identidade está muito mais no meu conhecimento do que num papel imundo, caso de meu atual RG, e que
não tenho o hábito de usar para me locomover próximo de onde eu moro. Aprendi
como lição a andar com documento oficial com foto. Um segurança despreparado
abordar um pesquisador com 15 anos de Universidade de São Paulo porque estava
sozinho caminhando num local ermo com Sol a pino é muito deselegante, mas marcante também,
pois bastava um palavra para mandá-lo aprender a conviver com gente
que tem mais capacidade e formação intelectual do que ele. Para mim foi tenso, mas
fiz minha parte por pura diversão e contentamento, pois às vezes eu preciso
mesmo pisar na grama, sentir os cheiros do cerrado, observar a vida plena na
natureza e talvez, enfim, incorporar Pina Bausch e dançar no deserto, pois aprendi diversas
coreografias com pessoas que a conheceram pessoalmente e danço mesmo, na chuva,
e quero me molhar. Quem vê de longe pode achar que é um louco, mas não, querido leitor. É ARTE. ARTE ELUCIDA. Paraty (meu estudo de caso no doutorado) também é uma das mais violentas, mas do estado do Rio de Janeiro. O meu tema precisa ainda estar
bem delimitado, pois não quero colocar minha integridade física em jogo durante
os trabalhos de campo que ainda terei que fazer por lá. Inclusive pretendo escrever um artigo científico sobre o
condomínio Laranjeiras, onde habitam bilionários que impedem o acesso da população
à praia. Há muita confusão ainda sobre o bem público e privado, bem como suas diferenças na prática.
A título de curiosidade, Rio Claro, em matéria publicada pelo Jornal Cidade em junho deste ano, é a terceira mais violenta do estado de São Paulo. Historicamente o horto florestal e sua posterior transformação em unidade de conservação é marcado por casos assombrosos de assassinatos e violência das mais variadas formas, sendo o mais conhecido o maníaco da bicicleta que assassinou mais de 100 pessoas e muitas dessas enterrou na área tratada neste texto. No horto florestal, “médiuns” (eu sou espírita Kardecista de formação) como eu sentem imediatamente a energia pesada, apesar da beleza do verde! E saber dessas histórias faz com que eu imediatamente perca o encanto pela beleza do patrimônio natural. Foi fácil chegar às informações sobre a violência em Rio Claro, que só descobri depois que cheguei em casa depois dessa aventura que vos conto e passei a pesquisar na Internet. Se tivesse chegado às matérias que li antes, como as que aqui cito, não teria ido fazer reconhecimento de área para estudar porque realmente a violência é gritante e escancarada. A última frase que me lembro do vigilante foi: "hoje você foi longe demais". Além de triste, é assombrosa a violência. Eu pesquisei pelas palavras-chave “violência + horto Rio Claro”, “violência + Rio Claro”, “violência + Unesp Rio Claro”, aparecendo diversas reportagens sobre os casos ocorridos, algumas bem recentes. Noutra matéria descobri que um esqueleto humano foi encontrado pendurado numa árvore no meio da vegetação nativa próxima ao horto. Se vocês seguirem em direção ao horto florestal pela estrada que passa pelo Laboratório de Microbiologia da Unesp, encontrarão uma entrada na frente sem porteira, as duas valas gigantes... Virando à esquerda uma pequena estrada dá acesso a um local com um cavalete de madeira gigantesco improvisado e uma caixa de madeira de supermercado, daquelas que guardam frutos, que parecia ser um banco para observação do cavalete. Mais a frente há um monte de terra e árvores mortas soterradas. O cheiro de carne putrefada estava muito grande anteontem quando estive por lá, havia uns urubus e muita mosca varejeira. Imaginei um pintor ali, mas a coisa pode ser mais séria do que eu presenciem in loco. Estou ligando possíveis fatos a partir da análise da paisagem. Talvez seja mais um corpo humano jogado por lá em decomposição e recomendo que autoridades adentrem a área para investigar se é gente ou bicho morto. Na estrada do lado direito da mesma área é onde se avista o paraíso na Terra. O Cerrado Paulista está belíssimo, repleto de flores maravilhosas depois das chuvas que caíram nesta semana, com suas texturas incríveis e aveludadas, meu Deus, obrigado por ter me trazido para Rio Claro! Há 7 anos eu compartilhei uma fotografia publicada pelo jornal da Unesp no Facebook dizendo que o cenário parecia um filme de terror (e ainda é!) e quem diria que assim que cheguei aqui no ano passado a atualização apareceria no Facebook. 7 anos!!! Seria destino? Missão? Talvez, ainda não sei. Que me ajudem os exotéricos na resposta. Mas eu quero, mais uma vez, ir embora. Para onde ainda não sei, mas quero, pois preciso de paz para sobreviver e violência ou sensação de insegurança me deixa paralisado. Sugiro pensar na ideia de usar instalações ecoturísticas na área de Cerrado próxima da Unesp, com placas interpretativas e voltadas à Educação Ambiental, em vez de usina fotovoltaica, e, também, câmeras de monitoramento eficazes em pontos estratégicos para monitoramento. Além é claro, de uma guarita, já que se pretende identificar quem é ou não da "comunidade unespiana", sem segregação ou expulsão de quem quer que seja. Chegando ao fim, fica aqui minha postagem-denúncia, sendo encaminhada para a administração de diversos órgãos ambientais e da Unesp em Rio Claro, também meu repúdio pelo assédio moral que experimentei pela primeira vez aqui pelo funcionário (formalizei reclamação e enviei até para a atual reitora que, com toda minha humildade, com certeza trará muita melhoria para nosso campus), não fazendo, desde que enfrentei usineiros de cana-de-açúcar em Araraquara e Brotas há uma década, NENHUMA CONCESSÃO.
CÓPIA DO E-MAIL ENVIADO PARA A REITORA DA UNESP E PARA O SETOR DE VIGILÂNCIA DA UNESP
Prezado Maurício,
Tudo bem? Espero que esteja ótimo. Entro em contato para registrar uma abordagem agressiva de um dos seguranças da UNESP campus de Rio Claro, onde sou pesquisador bolsista de doutorado (o terceiro que faço), ontem próximo à zona de amortecimento da floresta estadual, seguindo a estrada do Laboratório de Microbiologia. Detestei a forma como fui tratado. Eu estava fazendo pesquisa independente, coisa que quase ninguém faz porque se acostuma, como funcionários, a só chupar crachá e receber salário. Em outras palavras, não fazem muito a diferença no mundo. Eu tento fazer com meus métodos sempre ligados à educação ambiental e é o que estava fazendo no momento da abordagem. Informo que, segundo informações de trabalhadores, funcionários de uma usina fotovoltaica que estavam trabalhando lá me informaram que vão derrubar a vegetação nativa na semana que vem usando correntes e tratores, devendo ser enterrada em duas valas gigantes já abertas para instalação da usina. Você deve conhecer a área melhor do que eu. Pediram segredo, pesquisei e não encontrei nenhum estudo de impacto ambiental e acho que levarei a pauta para a reitoria, já que a Unesp pretende também ser uma universidade sustentável como é a USP. Para isto deverá usar indicadores de desenvolvimento sustentável queira ou não http://each.usp.br/turismo
Todas as vezes que eu for visitar a área de agora em diante, vai demorar um pouco, seguirei a recomendação da vigilância do campus, também num dos itens do link acima, para me acompanhar, pois ainda acho, embora não seja meu tema de pesquisa principal, que publicarei bons trabalhos capazes de despertar o interesse sobre o Cerrado Paulista, protegido por lei estadual.
Gostaria de lhe perguntar se devo imprimir duas vias assinadas sobre a abordagem agressiva do funcionário Brito e protocolar em algum órgão da Unesp, ou se é suficiente este e-mail para que o setor responsável converse com ele para que isto não mais aconteça com ninguém nem comigo? Afinal, a Unesp é pública, entra e sai dela quem quer, ou deveria, e como não é a roupa que faz o monge, eu sigo fazendo meu trabalho na esperança de contribuir para o bem coletivo. Por favor, Maurício, diga isto ao Brito se o encontrar. Ele fotografou minha identificação estudantil e é bom que saiba quem sou. É bom que ele saiba que não é a roupa que faz o monge! Passível de interpelação judicial, o assédio moral é inadmissível! Ainda mais por um segurança estúpido. Tenho um blog com milhões de acessos e dependendo de sua resposta, por favor, me oriente como melhor proceder, publicarei lá uma nota. Também incentivarei estudantes de graduação a estudar a área com iniciação científica. Numa busca no Google sobre “violência + horto” cheguei à informação de que muita gente já foi assassinada e enterrada na região da floresta, não sei se você sabe (i.e “maníaco da bicicleta”). Fiquei com medo, mas ainda bem que só descobri os horrores de Rio Claro e do horto depois que fui e já me dou por satisfeito com os campos informais que fiz.
Fico por aqui, pedindo também que informe ao funcionário que sinto muito pela forma como eu também tratei ele na frente de todo mundo no IB, e que peço desculpas. O fiz daquela forma porque ele não soube se comunicar comigo. Certamente não o verei nunca mais na vida. Espero. Eu precisei mandar ele estudar e chegar, apesar da idade avançada, no nível de consciência que estou e que pretendo chegar!
Ficarei feliz se obtiver um retorno deste e-mail.
Atenciosamente,
JOVINIANO NETTO.