quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A questão do etanol de cana-de-açúcar, indicadores e a (in)sustentabilidade de seu desenvolvimento no Brasil

O etanol de cana-de-açúcar vem representando potencial alternativa de incremento à matriz energética dos combustíveis e desempenhando importante papel econômico, social e ambiental seja como produtor de combustíveis para transporte, seja como gerador de eletricidade a partir de seus subprodutos. Pode-se perceber desta maneira que é urgente e atual a necessidade de tratar a questão de forma integrada no âmbito da pesquisa acadêmica e da gestão, e alcançar assim, respostas consistentes que sirvam para reflexões sobre a abordagem da sustentabilidade na produção do etanol e outras fontes de energia derivadas da cana-de-açúcar - se é que é possível tal sustentabilidade. E eu acredito que não seja. Campos de saberes isolados não dão conta de tratar da realidade dos fatos que nos cercam.

Para o tratamento de questões em que são colocados em prática princípios teóricos e instrumentos obtidos pelo conjunto de políticas públicas, bem como sua atualização e ampliação, é necessário que o planejamento - entendido aqui sempre como um processo - seja coordenado, capaz de articular distintos setores governamentais e não governamentais, integrar ações e compatibilizar capacidade de suporte de ecossistemas, demanda de recursos financeiros e ambientais. Isso feito, podemos talvez falar em desenvolvimento socialmente justo e ambientalmente correto.

A implementação de um sistema de gestão ambiental que possibilite a negociação e soma de esforços de atores sociais e políticos, capazes de integrar e avaliar políticas locais, regionais e nacionais, pode vir a representar uma alternativa importantíssima para o início de outra forma de desenvolvimento, mais consistente e durável. A operacionalização da lógica sustentável e o emprego de indicadores no contexto da produção de etanol constituem num dos desafios de estudos científicos e tecnológicos na atualidade.

De acordo com diversos autores, o uso de indicadores como medidores de processo do desenvolvimento sustentável devem possuir as seguintes funções:

•    Reconhecer objetivos, criar metas e mostrar condições e tendências de gestão ambiental;
•    Fornecer antecipadamente informações de advertência e sinalizar necessidades de ações corretivas das estratégias de gestão;
•    Subsidiar os processos decisórios e disponibilizar informação relevante para o apoio e implementação de políticas em diferentes escalas (desde bairros até países);
•    Tornar a base para o gerenciamento dos impactos ambientais e avaliar a eficiência das alternativas;
•    Refletir a condição geral de um sistema e permitir análise comparativa temporal e espacial;
•    Prever prováveis situações futuras de riscos e vulnerabilidades socioambientais;
•    Orientar planos, políticas, programas e projetos de desenvolvimento.

O adequado modelo que dê suporte aos processos decisórios, públicos e/ou privados, na temática da sustentabilidade do etanol deve assim, possuir um sistema coerente e real de informações, primárias e secundárias, capaz de elencar ou criar indicadores que apontam facetas de desenvolvimento sustentável. O que se vê, no entanto em alguns meios acadêmicos, é o surgimento de trabalhos (dissertações e teses) que não refletem a realidade objetiva dos fatos ligados à produção de cana, etanol e açúcar no Brasil, servindo apenas para legitimar a crueldade que acontece com trabalhadores e com o meio ambiente pelo rótulo de "sustentável". É preciso ir a campo e imergir no cotidiano rural. Caso contrário, corre-se o risco de cair numa ingenuidade intelectual baseada apenas em bibliografia e opiniões.

"Mar de cana" - Interior do Estado de SP
Foto: Joviniano Netto